segunda-feira, 23 de abril de 2012

O corpo da ciência na mídia: Veja e suas simplificações

Nossos corpos nos pertencem! Assim clamavam as feministas pela libertação de seus corpos nas décadas de 1960 e 1970. Clamavam elas pela oportunidade de viver seus corpos sem os ditames do universo Machista. Muito antes na história outras mulheres ousaram viver seus corpos para além dos ditames da igreja. Foram parar na fogueira! O corpo grotesco, segundo a História da Feiúra, de Umberto Eco, foi remetido a clausura ou ao espetáculo, exposto em circos na idade média. Mas, enfim, chegou à ciência e com ela o corpo foi submetido aos critérios de normalidade e anormalidade. Michel Foucault escreveu sobre a história da loucura e constatou que antes do discurso médico "diagnosticar" tal moléstia pelo crivo da análise objetiva do mundo, o louco foi visto como sábio em determinadas culturas, profetas, artistas, etc. Mas, enfim, adjetivou-se a loucura de mal. Esse corpo anormal foi retirado da sociedade para tratamento. No regime nazista a ciência criou métodos para detectar os verdadeiros arianos. Realizou-se medições de crânio, observou-se a simetria na cabeça e na face, havia proporção ideal exata entre a testa e o nariz e padrões para a altura. Na época, tais medições indicavam a raça suprema, tudo sob os auspícios da ciência. Mais recentemente o italiano Cesare Lombroso, que investigava sinais de pessoas criminosas no formato de seus crânios, também tentou justificar na ciência que homens de sucesso e criminosos poderiam se distinguir à luz dos "fatos" científicos. Agora temos o jornalismo científico, que por vezes apela à mítica da ciência para buscar seu público. Não é que a Veja dessa semana trouxe mais um desses controles da ciência sobre o corpo. A chamada é taxativa: "Do alto tudo é melhor: a evolução tecnofísica explica por que as pessoas mais altas são mais saudáveis e tendem a ser mais bem-sucedidas". Ao lado da manchete, claro, uma montagem de um belo homem alto, sorrindo e bem vestido contrastando com um baixinho canastrão, com cara de inveja. A relação emitida pela capa é tão pífia e simplista que não convida ao prazer de desvendar a ciência, ao contrário, a trata como caricata e simplificadora da realidade. São muitos os corpos que pertencem a mídia, o corpo da moda, por exemplo, é amplamente divulgado e com ele a obsessão por tais corpos é pulverizada. Muitas garotas hoje se observam nos espelhos e os vêem distorcidos. Seus corpos não mais as pertencem! Quantos discursos simplistas sobre classificações corporais vamos pulverizar nesse mundo de informações? Nossos corpos nos pertencem! Como nos lembra o poeta Eduardo Galeano: O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa! E basta!

7 comentários:

Giovani Pires disse...

Diegão,

Como diria o Camarada Dorenski, tenho somente duas palavras para acrescentar: "para-bens!"
E podes sair por aí espalhando que um dia foste meu orientando, vai me dar um baita prestígio!
Belíssima e oportuna reflexão.
Abração.

Maria Febrônia S. Strazzer disse...

Diego,como o nosso professor Giovani Pires se manisfestou em relação as suas colocações sobre a reportagem da VEJA, ele o fez com poucas palavras, mas disse tudo e eu só tenho que concordar parabenizando também pelas suas colocações referente a reportagem da(VEJA),onde com certeza quem tiver acesso ao seu texto terá outra visão em relação...
Um grande abraço

Alan Q Costa disse...

Diego,
Depois da manifestação do Giovani, só me resta endossar o dito e reiterar os Parabens pelo belo texto!
Abs

jfsf disse...

Muito boas considerações.
Com essa capa a Veja, por incrível que pareça, conseguiu se superar. Claro exemplo de eugenia.
Parabéns pelo texto.
Só uma pequena correção: o escritor é Umbero Eco, sem H e com um C.
Um abraço.

Diego S. Mendes disse...

Obrigado pessoal. Vamos seguir acompanhando o Blog!

PS: jfsf, obrigado pela correção, na pressa deixei passar, já foi corrigido.

Cristiano Mezzaroba disse...

Grande Dieguito!
coincidências à parte, hoje vi a revista na banca e fiquei "de cara"... nem folhei, não me convidou a folhar, mas me convidou a pensar nessas simplificações caricatas. Será que é a altura ou é a gordura o problema em questão, ou do sucesso e dinheiro em vida?! Parabéns pela abordagem do texto e pelo olhar sempre aguçado, reflexivo, crítico e denunciador. Vou até propor na disciplina de Saúde, Sociedade e EF que alguém faça um estudo sobre a tal revista, como aconteceu ano passado com a mesma revista divulgando a "construção do corpo pro verão".

Sergio Dorenski disse...

Isso ai Camaradas..., acrescentem ainda que ele passou pela UFS, comeu caranguejo, dançou forró, comeu bode assado em Itabaiana, literalmente, fez do corpo uma festa...Parabéns Diegão...e o jfsf quiz dizer Umberto!!!!
abração