quinta-feira, 26 de julho de 2012

Notas sobre a transmissão dos Jogos Olímpicos 2 - Para não agendar, Globo cobre apenas resultados

A Rede Globo pareceu intensificar a posição de não-agendamento dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 (JO 2012), ou seja, ela não quer e não vai promover, gerar demanda, fazer publicidade, criar audiência para o evento. Afinal, os jogos são transmitidos pela empresas concorrentes. Ao que tudo indica, a Globo não falará do que está por vir (programação) e sim do que já aconteceu (resultados) – ainda assim brevemente, seguindo a política de restrições do uso de imagens anunciada oficialmente ontem nos seus telejornais e páginas na internet.

Com a nota de esclarecimento sobre a política da emissora durante a cobertura dos JO 2012, a Rede Globo se justifica e tenta manter sua credibilidade afirmando que seguirá os princípios da informação e dos direitos esportivos. Por outro lado, busca abafar a grande repercussão e estranhamento que a ausência das notícias olímpicas estão causando. Tal repercussão está nas redes sociais, como Facebook e Twitter, mas também nas notícias das empresas concorrentes, como a Record e o portal Terra, que possui os direitos de transmissão dos jogos para a internet (a cobertura online será assunto do próximo post). A Record, inclusive, manifestou-se antes e depois da Globo, primeiro explicitando qual seria a sua política de cessão de imagens dos jogos para as demais emissoras e depois se contrapondo a algumas informações da rede carioca.


Tal tendência de silêncio da Rede Globo já estava explícita e foi anunciada aqui no blog pelo professor Giovani Pires: raras vezes a organização do evento e a preparação dos atletas para os JO 2012 foram noticiadas na grade da programação da emissora nos últimos meses. A seleção brasileira de futebol masculino, repleta de atletas com menos de 23 anos, em óbvia preparação para os JO 2012 durante os últimos amistosos transmitidos pela Rede Globo, foi identificada, via de regra, como time base para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e não como seleção olímpica.

Mas o que mostrou o radicalismo do silêncio foi o fato de que a emissora omitiu a existência das partidas do futebol feminino durante todo o dia de ontem, dentre as quais havia a presença da seleção brasileira. As partidas só saíram da escuridão nos telejornais da noite: Jornal Nacional e Jornal da Globo.

Em tempo: os jogos do futebol masculino começaram esta manhã com diversas partidas. À tarde teremos a primeira partida da seleção brasileira do multimidiático Neymar. A presidente Dilma está em Londres para a abertura dos JO 2012 (e já esteve em reunião com a cúpula da Record, dentre eles Edir Macedo...). Acabo de acompanhar o Globo Esporte de Santa Catarina. Dentre as chamadas do início do programa e do final de cada bloco, nenhuma referência ao JO 2012. Durante o programa esportivo, apenas uma pequena síntese dos acontecidos de ontem (jogo da seleção brasileira feminina de futebol, rivalidade com as americanas, a bandeira da Coreia do Sul colocada por engano no telão da partida da Coreia do Norte). Mas nenhuma referência ao que está acontecendo hoje. No Jornal Hoje desta quinta-feira, os JO 2012 não foram noticiados.

Vai que o telespectador fica sabendo e sintoniza na Record?...

5 comentários:

Cristiano Mezzaroba disse...

É, Rogério... na esteira do que o Diego comentou na tua primeira postagem, é muito pertinente vc escrevendo aqui. Parabéns novamente! Tenho feito uma rotina aqui em casa, com meus pais: meu pai tem o costume de chegar em casa, ligar no jornal da Band, depois passa pro Jornal do SBT e pra finalizar a "olimpíada telejornalística", assiste ao Jornal Nacional. O SBT está noticiando bastante as Olimpíadas, e nisso, penso, a Globo vai sair perdendo. Já está!!! Sem Libertadores, sem o Corinthians nas Olimpíadas, vai falar do quê? vai calar/omitir o grande espetáculo esportivo mundial? Seguimos observando... e constantando o jogo de discurso e de poder!

Giovani Pires disse...

Olá,pessoal,

De molho em casa, estou tendo uma overdose de televisão.
Assisti ao jogo do Brasil e Egito (futebol masculino) pela Record. O Romário, de comentarista, é trash. Parafraseando ele mesmo, calado o cara é um poeta.
Mas enfim, passei apenas para destacar que o fechamento prévio do IBOPE de hoje a tarde, no horário do jogo, não conseguiu dara liderança para a Record. A Globo, com a sessão da tarde, emplacou 10 a 9,5 pontos sobre a Record .
Isso indica que, até aqui, a estratégia de tentar esconder a programação, limitando-se a anunciar resultados, muito bem apanhado pelo Rogério, vem dando certo para a Globo.
Vamos observar o que vem pela frente. Interessante será ver como vai ser amanhã, as 17h., na abertura oficial.

Giovani Pires disse...

Em condições piores (menos tempo e menos repetições) que as oferecidas pela Record, a Globo preferiu adquirir a baixo custo imagens fornecidas pelo OBS (Olympic Brodcast Services).
A aparente contradição tem uma explicação simples: comprando do órgão oficial do COI, a Globo só tem que informar, em caracteres, que as imagens para o Brasil são geradas pela Record.
Se utilizasse as imgens da Record, elas viriam com a logo da Record, que não poderia ser retirada.
Como dizem: se "uma imagem vale por mil palavras", nenhuma imagem são no mínimo mil palavras a menos!

Rogério Santos Pereira disse...

Que ótimo dialogar com vocês por aqui! Paula, Cris, Diego, Gio...

As reflexões sobre os Jogos Olímpicos são indispensáveis para nós, professores, que temos que pensar pedagogicamente o esporte e suas relações com as mídias. Os acontecidos da cobertura midiática dos Jogos de Londres - que começam oficialmente hoje! - nos mostram pragmaticamente que o esporte é um negócio. Mas o esporte também desperta acirradas e intensas paixões. E isso faz com que ele não seja qualquer negócio: multifacetado, polissêmico, no centro de diferentes interesses, o esporte se encontra no grupo dos grandes negócios, imbricado com as políticas, com a educação, com os discursos sobre saúde, lazer, bem-estar, beleza, segurança pública, ascensão social, etc.

As nossas intervenções, mediações, podem transformar os modos de apropriação do esporte. Como será que os professores estão levando o tema dos Jogos Olímpicos para os espaços de aula? Será que estão discutindo o embate entre Record e Globo? Será que discutem os nuances que envolvem os direitos de transmissão de um megaevento esportivo? Será que se propõem a construir uma transmissão própria, aprendendo, descobrindo, criando formas de se expressar com as mídias?

Sergio Dorenski disse...

Ai pessoas, agora entendi o silêncio da Globo e a aparente "tranquilidade": Ana Paula Padrão está no lugar certo! (kkkkkk)..."direto do Jornal da Globo". Só que ela esqueceu que estava na Record...ai, é mais fácil do que roubar pirulito de criança (kkkkkk)