sexta-feira, 7 de outubro de 2016

ESPORTE E MÍDIA: QUEM ME ROUBOU DE MIM?

Olá Pessoas, segue abaixo um texto produzido pelos alunos da Disciplina de EDF. Esporte e Mídia...o debate está aberto...Façam seus comentários, pitacos, crítica....
abraços
Sérgio Dorenski


 ESPORTE E MÍDIA: QUEM ME ROUBOU DE MIM?

Claudemir Santos Lourenço – Educação Física/UFS
Flávio Figueiredo de Oliveira – Comunicação Social (Áudio Visual)/UFS
Jaqueline dos Santos S. Almeida – Educação Física /UFS


Um grupo de crianças sentados na calçada, pés descalços, alguns descamisados, bermudas surradas e sujas na grande maioria. Estão todos conversando, trocando apelidos e risos de gozação, uma molecada. Então de repente muita vibração, ânimos elevados e todos se levantam e o motivo? A bola chegou!   Esta tem sido uma das cenas mais comuns na infância por muitas décadas.
A prática esportiva pode proporcionar muitas outras coisas além do lazer, a lista de benefícios passa pelo campo do bem estar físico, social, emocional, cultural e ela segue tocando nos pontos fundamentais dos princípios da qualidade de vida. Porém outros fenômenos sociais, e bem capitalistas, busca de maneira determinada se apropriar do esporte. De forma furtiva o capitalismo presente no contexto mundial se lança cada vez mais empenhado em garimpar o esporte, pra isso, foram construídas gigantescas indústrias para dar à luz e alimentar robustamente a cultura do esporte de rendimento, fenômeno tão pouco notado pelos telespectadores, consumidores que passivamente abandonaram quase que integralmente os espaços de esporte e lazer para prestigiar o espaço da poltrona de suas salas e assistir o mundo através das telinhas de TV, verdadeiros cinemas, e assim, alimentar ainda que alienadamente o esporte fabricado por esse novo mercado, pelo capital, pelas grandes corporações, o esporte espetáculo. Será esse um preço pequeno para comprarmos um punhado de emoções?
A compreensão das pessoas, de modo geral, sobre o esporte de alto rendimento pode ser ilustrada pela famosa teoria da caverna de Platão, além disso, formou-se um conjunto de julgamentos de valor a respeito destes atletas. Uma moeda de duas faces turvas, de um lado a fama, o poder, as riquezas e ostentações, um mundo colorido e os mais belos sonhos encantados, a promessa de prosperidade para aqueles que conseguirem se destacar na multidão da grande maioria de desafortunados que veem no esporte uma ponte para o sucesso, para a realização profissional e pessoal. Uma carreira que pague o valor de uma universidade e de quebra possa incluir o salário de todos os que a compõem, isso em um pequeno espaço de tempo, já que essa é uma carreira com tempo de vida útil bastante limitada. No outro lado da moeda as pessoas encontram o fascínio que o esporte pode proporcionar. A beleza, o encantamento a cada lição de superações, valores que moldam o caráter e estimula espontaneamente a busca pelo bem estar pessoal e social, porém, essa visão na realidade permanece viva unicamente na prática do esporte que está longe dos holofotes, pois a realidade dos atletas que vivem o esporte espetáculo é bem diferente do que muitos imaginam, o degrau da fama cobra muito mais do que os candidatos estavam dispostos a dar quando ainda sonhavam com seu lugar ao sol. Estes atletas são obrigados a viver uma vida sob forte pressão, uma jarda a menos, um ponto a menos, uma braçada a menos, um segundo a menos, um gol a menos e o sonho pode se transformar no inicio de um grande pesadelo, eles precisam conviver com a forte manipulação daqueles que ditam as normas e tendências com foco na audiência, na venda do atleta como produto, moeda de troco ou decisões burocráticas. Bastidores que rompem com a ética, a dignidade, a moralidade, entre outros valores. Eles precisam lhe dar ainda com a validade de seu corpo, pois um produto com defeito como em qualquer indústria que se preze precisa ser removido da prateleira. E quando os holofotes e aplausos se retiram, quando o silêncio transforma euforia em solidão, uma névoa densa e escura conduz os atletas ao “vale do silício” de onde terão que se reinventar na maioria das vezes, e descobri uma nova vida, um novo caminho.
No Brasil, empresas midiáticas travam uma verdadeira batalha para realizar a cobertura de jogos de futebol, principal produto desta indústria do esporte espetáculo, expor suas marcas e produtos por toda parte, assim também, como ter as grandes “estrelas do momento” representando os mais diversos produtos destas grandes organizações é garantia de aumento no consumo e dos lucros. É expressivamente incrível o número de pessoas que de certa forma parecem estar “zumbizadas” e dormentes quanto a sua percepção das mais diversas formas que a mídia utiliza para atrair consumidores e alimentar essa gigantesca indústria do entretenimento que corrompe a alma, a essência do esporte em sua matriz imaculada, pois o espírito embrionário do esporte permanece longe dos holofotes e das câmeras de TV, no seio dos seus criadores e na essência daqueles que aguardam sentados em campos, quadras e calçadas pelo objeto de anseio que dará mais vida a brincadeira da molecada.
– Pessoal! A bola chegou!
 – Uruuu!!! Vamos brincar.

9 comentários:

Unknown disse...

Parabéns ao grupo pelo texto!
A espetacularização do esporte passou o atleta para um segundo plano, sendo o primeiro a popularização daquela prática, que perpassa o campo profissional e chega ao campo amador também. Conforme citado no texto, estes atletas são obrigados a viver uma vida sob forte pressão, [...] uma jarda a menos, um ponto a menos, uma braçada a menos, um segundo a menos, um gol a menos e o sonho pode se transformar no inicio de um grande pesadelo [...] (Almeida, Lourenço, Oliveira, 2016), mas não posso deixar de citar que essa vida sob pressão passou a ser bem remunerada em vários cantos do mundo, com salários astronômicos sendo pagos a atletas ''normais'', por outro lado, a pressão agrada de certa forma ao telespectador, tendo em vista que diante da necessidade do alto rendimento, aquele programa tende a se tornar mais atrativo, atrativo para os potenciais consumidores, que hoje em dia nem precisam mais sair de casa para acompanhar seu clube do coração, o lutador favorito, a competição do momento... Desta maneira, agradece a indústria midiática em sua grande maioria, agradecem os atletas que tem seu ganho garantido e lastimam aqueles que desejam apenas se divertir com o esporte.

Unknown disse...

A imagem do atleta inspira a criança que no futuro tornar-se atleta. Desta maneira, é criado um circulo vicioso. mera coincidência ou é tudo programado?

Unknown disse...

Muito bom o texto, parabéns aos autores. Com a sua mercadorização e espetacularização o esporte sofre enormes percas quanto seus aspectos humanos, seus atletas passaram não só a ser funcionários, mas passaram a ser tratados como objetos, manipulados de acordo com as demandas desse grande mercado financeiro. Também não posso deixar de citar que estes atletas, especialmente de modalidades como o futebol, são remunerados com salários extravagantes, fortíssimo atrativo tanto para os que já são atletas, como para os que sonham em um dia ser um.

Bianca Gonzaga disse...

Parabéns pelo texto pessoal! Compartilho esse pensamento, no entanto acredito que esse produto da mídia seja resultado não do mero acaso, mas sim de um sistema que patrocina e financia esse espetacularização do esporte, já que na mesma proporção que o capitalismo alcança seu ápice, cresce também a comercialização do esporte, que nesse processo perde a sua espontaneidade, deixando de lado seu caráter de lazer, para se configurar como mercadoria e espetáculo para o feroz consumo.

Giovani Pires disse...

Muito bom texto, caríssimos, parabéns!
Leitura agradável, sensível sem deixar de ser crítica (não precisa ser rabugento pra ser crítico, né?)
Tenho uma charge que representa muito o que o texto aponta, usei na apresentação da minha tese... (não vou dizer o ano!). Se não conseguir enviar por aqui vou postar no blog.

circulomagico disse...

Boa pessoal e Sergião pela construção do texto.
Uma ótima síntese de muitas das mazelas e da complexidade que cerceia o esporte espetáculo e a dimensão do alto rendimento.
Deixo aqui uma provocação que tem me tomado nos últimos dias a partir da leitura do "Elogio da beleza atlética" de Gumbrecht (Vale a pena ler!!).
A pergunta: o que fazer para alcançar? Ou melhor, onde está o ponto de equilíbrio entre a leitura crítica e o encantamento estético que é inerente ao esporte?
Seguimos,
Abraço!

Sidney Rocha disse...

um belo texto, Parabéns. Abordando toda essa "banalização" do esporte, em que por interesses particulares e econômicos, é deixado de lado a "essência" do esporte (diversão, o prazer em jogar e etc) e abrem-se as "lojas" desse fenômeno, transformando o "humano" em produto...

Unknown disse...

Eles querem te vender, eles querem te comprar, querem te matar (a sede), eles querem te sedar ♫ .
Uma síntese da disciplina e do cenário esportivo atual. Parabéns, gente!
É sempre assim, na sociedade do consumo a dignificação é pautada no lucro! Sejam homens ou máquinas, a lógica mercadológica não poupa nenhum. Entretanto, diante de uma sociedade tão dinâmica, eu não concordo que existam atitudes passivas. Corroboro com Gramsci: "viver significa tomar partido"; e isso, na minha percepção, em qualquer aspecto da vida. Logo, acredito que até mesmo as atitudes mais cômodas, não são regidas por passividades, elas implicam na consolidação de um sistema. Acredito que, mesmo diante de uma sociedade "bestializada", suas ações tendem a seguir uma lógica, e não podemos ser inocentes ao ponto de acreditarmos que isso emerge forma aleatória!

Unknown disse...

A sociedade capitalista em que vivemos utiliza-se do esporte de rendimento com fins lucrativos e da imagem do atleta bem-sucedido para envolver sonhos e garantir novos ídolos para novos sonhadores, mas por trás dessa “belíssima” nevoa nos deparamos com os atletas que não se destacam e que em sua maioria trabalham nas empresas dos patrocinadores do ídolo que tanto sonha ser.
Parabéns ao grupo!!