terça-feira, 25 de outubro de 2011

O olhar de Dines sobre o embate Veja X Orlando Silva

Artigo de Alberto Dines publicado hoje no Observatório da Imprensa.
Quem sabe não está aí uma oportunidade para pesquisarmos os "esportes radicais"...
Vamos observar!


Esportes Radicais
Derrubar ministros exige competência

Por Alberto Dines em 25/10/2011 na edição 665

Balística e jornalismo investigativo têm algo em comum:independente do calibre da arma e da força do projétil, é crucial avaliar o ângulo do disparo e a vulnerabilidade do alvo.

As denúncias da Veja contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, publicadas no fim de semana 15-16 de outubro (edição 2239) devem demorar a derrubá-lo ou talvez nem o derrubem. Foram formuladas canhestramente. São ineficazes.

Para começar: o denunciante é réu. Portanto, suspeito. Tem ficha de truculento, negocista, policial-bandido, miliciano típico. Esteve envolvido no mesmo esquema que agora tenta demolir. Faz parte do mesmo bando que agora está sendo investigado. O desvio de verbas do ministério para ONGs que promovem o esporte assistencial já estava sendo investigado há mais de dois anos pelas polícias de Brasília e Federal, pela CGU e pelo Ministério Público.

O fato novo, bombástico, é a entrega de dinheiro vivo na mão do ministro ou de seu motorista. E esta tremenda novidade não colou porque carece de provas. Veja embarcou em nova aventura denuncista sem ter qualquer comprovante. Saiu atirando.

Fora dos holofotes

Na ânsia de ganhar o campeonato nacional de tiro-aos-ministros, o semanário fez escolhas estratégicas erradas. Quando a Folha de S.Paulo atirou em Antonio Palocci, mirou apenas em seu incrível e vertiginoso enriquecimento. Não pensou no PT nem em alvos próximos. Apontou, atirou, acertou na mosca, Palocci estrebuchou um bocadinho e emborcou.

O frenesi ideológico dos atiradores de Veja leva-os a optar pela rajada e esta nem sempre é mais letal do que o tiro único, certeiro. Queriam pegar o ministro e também o seu partido, fazer o trabalho completo. Não pegaram nem um nem outro.

O PCdoB, tal como uma porção significativa da base aliada, está envolvido em bandalheiras. Sua imagem de estoicismo e idealismo há muito evaporou. A vigorosa reação dos familiares das lideranças comunistas históricas em seguida à propaganda televisiva do partido (Anita Leocádia Prestes e Victoria Grabois, por exemplo) é prova de uma indisfarçável degradação.

São consistentes muitas das revelações sobre o que acontece dentro e em torno do Ministério do Esporte não apenas porque já vinham sendo investigadas, mas porque agora passarão a ser monitoradas também pela Procuradoria Geral da República. É da natureza da PGR relutar, não dispersar-se em muitas ações e trabalhar longe dos holofotes. Mas quando anuncia publicamente que vai apurar malfeitorias é porque pressente o que deve encontrar.

Esporte perigoso

A editoria de denúncias do semanário da Editora Abril não levou em conta as chamadas “circunstâncias ambientais”: a destituição do ministro do Esporte quando faltam três anos para o início da Copa do Mundo só poderia ocorrer diante de colossais ilícitos. Comprovados cabalmente. Também não levou em conta que naquele momento o ministro Orlando Silva não poderia ser facilmente sacrificado porque representava uma ala do governo que tenta oferecer resistências ao poderio conjugado dos abutres Fifa-CBF.

Para ser eficaz, o jornalismo de cruzadas deve evitar fúrias, ser preciso. A grande mídia está apostando para ver quem derruba mais ministros até o fim do ano. Trata-se de um esporte radical, cansativo e perigoso. Corre o risco de ficar desacreditado.

Artigo publicado na edição 665 do Observatório da Imprensa - www.observatoriodaimprensa.com.br

5 comentários:

Sergio Dorenski disse...

Valeu Lyana pela postagem. Mas, esse tal de Alberto Dines é bom em?!Esportes radicais... essa foi ótima. Só falta agora um (in) feliz incluir no curso de Educação Física (kkkk)

Daniel Minuzzi de Souza disse...

Muito bom texto....

Giovani Pires disse...

Mas a Veja (e a mídia em geral) tanto fez que conseguiu...
Derrubaram o Orlando agora à tarde.
Serve também pra gente avaliar o poder da mídia, mesmo amparada na denúncia vazia de um bandido...
Poder amplificado e realimentado pelo bate-bumbo cotidiano da oposição no congresso e os interesses da CBF/FIFA.

Sergio Dorenski disse...

Pois é Gio, fiquei sabendo agora pela manhã assim que cheguei na Faced/UFBA. Eu não gostava muito desse ministro, mas confesso que me deu pena! não se pode subestimar o esporte, ou melhor, o valor econômico produzido por ele, pois acarreta uma série de interesses. Não dá para ter ética numa coisa que não existe ética, ou melhor, a ética é a ganância por dinheiro. Ontem na UFS, no Seminário sobre Cinema, juntamente com o Cris e o Hamilcar, estávamos analisando, a partir do filme "Um domingo Quialquer" esta relação... (boa pedida para ver). Serve de lição e que ele agora se preocupe efetivamente com a Escola e deixe as oligarquias do $port!!!!!

Silvan Menezes disse...

Muito bom texto mesmo... para pensar como o dito "melhor semanário" do país mete os pés pelas mãos e faz manobras totalmente equivocadas, algo como um 360º no meio de um tsunami, o "tsunami esportivo" do Brasil. Mas é isso ai, veremos as cenas dos próximos capítulos e agora assistiremos à briga dos partidos para ver quem fica com a "mina de ouro".