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OLIMPÍADA - O real valor
Cobre ética,
responsabilidade, seriedade e competência de nossos políticos e
administradores, não aceite derrotas na área humana, indigne-se com as
mazelas, violência, pobreza, falta de educação e saúde adequadas.
Sem saúde, educação, melhor
distribuição de renda e acessibilidade à prática do esporte
continuaremos sempre como uma mediocridade olímpica e, pior, uma nação
esportivamente falida.
Como todas as pessoas, algumas mais e outras menos, estivemos
envolvidos durante duas semanas com os jogos olímpicos. Decepções com
alguns atletas, surpresa com outros, discussões aprofundadas sobre
esportes que mal conhecemos as regras e as dificuldades. Indignamo-nos
com atletas que falham ou que pecam na hora decisiva, pois deixaram de
ganhar uma medalha de ouro que nos daria o falso sentimento de orgulho
de uma nação bem sucedida. Por outro lado passamos indiferentes pela
corrupção, aceitamos passivamente o imenso e freqüente desvio de verbas
na educação, na saúde ou nos esportes assumindo que isso ocorre mesmo no
Brasil e que nunca vai mudar. Passamos igualmente indiferente por
atletas que alcançam “somente” um oitavo lugar, como se nós, em nossas
áreas de atividade, não ficássemos radiantes em ser o oitavo melhor no
mundo….
Na realidade, nossa colocação nos jogos olímpicos deveria ser próximo ao 45º lugar.
Por que?
Essa colocação retrataria a media de nossa posição mundial em termos
de PIB, sexta potencia e nossa colocação no IDH, Índice de
Desenvolvimento Humano, onde ocupamos o 84º lugar.
Se por um lado existe verba disponível para o esporte, por outro
falta-nos o material humano educado e saudável necessário ao sucesso
esportivo, entre outros sucessos mais importantes. Dessa forma, os
ídolos esporádicos e bem sucedidos são muito mais obra do acaso e da
perseverança de alguns, do que devido a uma política nacional
consistente e incisiva, incluindo-se ai a área esportiva.
A verdade e que os jogos olímpicos, como outros eventos de tal
magnitude, há muito já viram seus objetivos iniciais desvirtuados. O
objetivo de congraçamento dos povos, a busca da superação de limites, a
essência do competir ser mais importante que ganhar, o amadorismo puro
não existe mais. Tudo gira em torno de um imenso balcão de negócios.
As cidades organizadoras, selecionadas muitas vezes por votos
questionáveis de corrupção, buscam divulgar o país e promover suas
economias locais no turismo, na execução de obras faraônicas.
Os atletas recebem recompensas por medalha, algumas elevadíssimas,
outras nem tanto, mas pagas por governos interessados em auto promoção.
Além disso, o destaque não é propriamente uma retribuição de respeito
pelo país e a seus torcedores, mas uma enorme oportunidade de
conseguirem patrocínios milionários de fornecedores de materiais,
celulares, produtos de beleza, bebidas, roupas.
Os patrocinadores deleitam-se com seus novos produtos e lançamentos
na expectativa de aumentar seus lucros. Esse e o mundo real, mas
convenhamos não o ideal.
Façamos um exercício de suposição. Imagine que o Brasil fosse 4º ou
5º colocado em todas as provas olímpicas. Nenhuma medalha. Seriamos um
fracasso olímpico, mas seríamos uma potência esportiva, senão a
maior,com atletas de alto nível em todas as modalidades.
Um pais que contaria com uma política de esportes saudável, eficiente, sem ser eficaz talvez, mas invejável.
Contrariamente a certos países que nos ultrapassam em número de
medalhas de ouro, mas que são pobres em investimentos esportivos,
concentrando-se em um ou dois esportes, como levantamento de peso,
lançamento de disco, sem demérito a essas modalidades, com o intuito de
faturar medalhas de ouro que servem basicamente a mascarar as falhas
governamentais desses países, a abastecer o ego de ditadores e
populistas e aumentar as vendas de produtos patrocinadores.
Parodiando, ou adaptando uma famosa frase, diria “Infeliz do país que
não tem ídolos, mais infeliz o país que precisa de ídolos”. Atletas e
treinadores combinam resultados, times perdem propositalmente, atletas
se dopam, tudo em nome de uma medalha. Não é esse o modelo a ser seguido
para um pais potencia.
Os jogos olímpicos duram duas semanas e ocorrem a cada quatro anos
como todos sabem. Nossa vida não para. Guardemos nossas decepções,
nossas tristezas, nossa revolta para coisas mais palpáveis e seríssimas
que afetam nosso dia a dia.
Cobre ética, responsabilidade, seriedade e competência de nossos
políticos e administradores, não aceite derrotas na área humana,
indigne-se com as mazelas, violência, pobreza, falta de educação e saúde
adequadas.
Não aceite que profissionais indispensáveis ao crescimento do Brasil
como professores sejam aviltados por baixos salários e falta de
condições, principalmente na escola pública que já foi a elite
brasileira.
Indigne-se com o mau desempenho de seus eleitos e seja mais tolerante
com seus atletas, eles passam rapidamente, os demais são responsáveis
pela sua vida e de outros milhares de potenciais atletas.
A massificação do esporte resulta em um povo mais saudável, e com um
número maior de praticantes as chances de aparecerem atletas de alto
nível aumentam substancialmente, mas esse não e um fim, mas uma
conseqüência.
Sem saúde, educação, melhor distribuição de renda e acessibilidade à
prática do esporte continuaremos sempre como uma mediocridade olímpica
e, pior, uma nação esportivamente falida.
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