PIOR DO QUE PENSAVA - Tostão
Prefiro ver o Brasil melhor no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do
que ganhar mais medalhas. De qualquer maneira, se quiser evoluir, em
todas as áreas, incluindo o esporte, será necessário diminuir as
patotas, a perniciosa relação de troca de favores e colocar os mais bem
preparados e mais dignos nos cargos estratégicos.
Não basta planejar e investir. Projeto não fala, não pensa, nem tem alma.
O Brasil joga hoje, contra a Suécia, a última partida no estádio
Rasunda, onde ganhou a Copa de 1958. Recentemente, vi, em DVD, todos os
jogos, na íntegra. A seleção era melhor do que imaginei com 11 anos, ao
escutar as partidas pelo rádio. O Brasil mostrou ao mundo que era
possível unir o futebol imprevisível, descontraído e criativo com a
eficiência.
Chico Buarque, décadas atrás, em um belíssimo texto, disse que os
europeus eram os donos do campo, por ocuparem melhor os espaços, e os
brasileiros, os donos da bola, por gostarem de ficar com ela e de
tratá-la com intimidade. Hoje, o Brasil não é dono do campo nem dono da
bola.
Está pior do que pensava. Antes da Olimpíada, achei que o time, por ser
quase o principal, diferentemente de outros países, seria o grande
favorito e que nossos jovens dariam show em defesas de jogadores
desconhecidos. Enganei-me.
Contra o México, Mano errou ao colocar Alex Sandro no meio-campo,
aberto, com a função de ser secretário de Marcelo. Alex Sandro e o time
já tinham jogado mal contra a Coreia do Sul. Mano errou também ao levar
Hulk. A prioridade era mais um zagueiro ou um lateral direito. A defesa
jogou muito mal em todas as partidas.
O Brasil não tem um craque definitivo. O único com chance de ser um fora
de série é Neymar. Ainda não é. Sem craques experientes a seu lado, no
Santos e na seleção, ficará muito mais difícil para ele evoluir. Neymar
vive um momento perigoso. Deram a ele o prestígio de uma celebridade
mundial, de gênio, e também uma enorme responsabilidade. Se o Brasil não
for campeão do mundo, os mesmos que o adulam vão massacrá-lo.
A formação ineficiente e, muitas vezes, promíscua, nas categorias de
base dos clubes, e o estilo de jogar dificultam o aparecimento de
craques. Com menos craques, há menos chances de isso mudar. Mano, pelo
menos no discurso, tenta fazer alguma coisa, sem sucesso. As marcas da
mediocridade foram impregnadas na alma dos jogadores, técnicos e de
parte da imprensa.
Não adianta trocar de técnico, a não ser que surja alguém especial,
romântico e racional, profundo conhecedor de detalhes técnicos, táticos,
observador da alma humana e, ao mesmo tempo, corajoso, combativo e que
não precisa gritar, se exibir e dizer que é tudo isso. Falta ao futebol
um Zé Roberto.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/tostao/1137474-pior-do-que-pensava.shtml
Um comentário:
Boa Cris... O Tostão como sempre sensato e objetivo com as suas palavras... O futebol brasileiro há uma década já não vem apresentando o melhor do futebol mundial... desde a "família Scolari" que não temos uma EQUIPE de futebol... temos alguns bons jogadores que apresentam lapsos de bom futebol com a camisa da seleção brasileira... já foi a época em que tínhamos um ícone no time, mas que era rodeado de outros tantos craques em todas as outras posições formando uma time com espírito de equipe... Ontem fui no Scarpelli ver o Figueira contra o Santos, fui ver se o Jatinho que tinha ido buscar o Neymar em Estocolmo iria valer a pena, pois foram alguns "contos de réis" gastos além de submeterem o moleque à um esforço desumano... Num é que o NJr11 fez a diferença e decidiu o jogo? Para os empresários que cuidam da carreira dele é muito bom continuar jogando aqui no Brasil, onde os times adversários não têm tanta disciplina tática, não possuem tanta estrutura para se prepararem fisicamente e na grande maioria não possuem a cultura de desenvolver a técnica de marcação... dessa forma ele continua brilhando e rendendo mais uns tantos "contos de réis".
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