Vale a leitura, valem as reflexões!
Agradeço à amiga e colega Prof. Priscilla Figueiredo por compartilhar conosco!
Vale a pena?
Vendo
esses atletas ganharem medalhas, quebrarem recordes, suarem a camisa e
botarem os bofes pra fora na terra, na água e no ar, oscilo entre a
admiração e a pena.
Admiração
pelo talento, e, principalmente, pela força de vontade. Ó o Phelps: o
cara tá nadando desde os sete anos de idade, tá há 12 competindo em
Olimpíadas, querendo se tornar o maior medalhista de todos os tempos e
então, pronto, tornou-se. Bonito. Mas essa mesma força de vontade, tão
desproporcional quanto as coxas do Robert Förstemann --aquele ciclista
alemão que parece primo do He-Man-- me dá certa pena.
Coitados
desses caras! O Thiago Pereira disse que chega a vomitar após alguns
treinos. Cesar Cielo falou que sai das provas quase desmaiando. Esse
pessoal tá se preparando desde criancinha, atravessou a adolescência
focado, deixou de namorar, de viajar com os amigos, de passar mal depois
de beber Campari com Fanta Uva, enfim, deixou de fazer todas as
besteiras fundamentais da juventude para conseguir encostar numa parede
0,2 s antes, pular 1 cm mais alto, levantar 1 kg a mais. Valerá a pena
tanta dedicação?
Veja,
não é a inutilidade dos feitos que me incomoda. Pelo contrário. Acho
que, num mundo sem Deus e sem sentido, é uma postura nobilíssima dedicar
a vida a um jogo. Que bela vingança contra a morte, que elegante desdém
diante do vazio é especializar-se em meter uma bola entre três traves,
em rebater uma peteca por cima da rede, em dar piruetas e depois cair
numa piscina. Mas só vale se for possível extrair dessas atividades
algum prazer --e, com o nível de exigência que o esporte alcançou, acho
difícil que os atletas estejam se divertindo.
Quando
Phelps chegou em quarto, na sexta-feira passada, muitos se perguntaram
se ele teria realmente treinado menos do que o necessário e se, depois
de duas Olimpíadas de glória, Londres seria um fiasco. Secretamente,
torci por isso. Não porque queira mal ao nadador, mas porque achei que
veríamos então, finalmente, no meio de tantos super-heróis, um
espetáculo humano, demasiado humano: um homem que tinha tudo para ser o
maior de todos os tempos e deixou a chance escapar --por preguiça, por
tédio, por irresponsabilidade ou qualquer outra fraqueza comum a todos
nós. Esse fracasso seria uma lição bonita, mais bonita que suas
vitórias.
O
slogan de Londres 2012 é "Inspire a generation": Inspirar uma geração.
Inspirar para quê? Para que essa geração aprenda a abrir mão de tudo e
aguente toda a dor necessária em nome de um objetivo? É uma postura boa
para construir campeões e malucos. Daí saem medalhistas, soldados e
fiéis. É pra isso que serve o esporte? É isso o que queremos da vida?
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