A partir de agora, segue a estratégia dos acadêmicos e acadêmicas que cursam a disciplina "Educação Física, Esporte e Mídia" do Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe em expandir as discussões para além da sala de aula aqui, virtualmente e extrapolando as fronteiras das paredes universitárias.
O texto abaixo se trata das reflexões dos acadêmicos Rhuan, Maria Beatriz e Samara (do curso de Jornalismo/UFS) e de Camila (do curso de Serviço Social).
Aguardamos os comentários, sintam-se convidados ao debate.
Da série menos 10 kg em 7 dias: Você precisa mesmo disso?
Ou
menos 4 em 5 dias. Três dicas para alcançar barriga negativa! Linda e magra: a
dieta que vai mudar a sua vida! Os chás verdes que você precisa tomar agora! Se
você possui o mínimo de acesso a meios de comunicação, com certeza já se
deparou com pelo menos uma das frases acima. Nas capas de revista, nos
programas de televisão ou na infinita internet, o papo ultimamente é quase
sempre o mesmo: você, logo a priori, precisa emagrecer. Mas será que precisa
mesmo?
Em
tempos de comunicação velocíssima e uma cada vez mais democrática propagação de
discursos, o culto a um corpo tido como perfeito
nunca esteve tão em alta. A tal ditadura que há muito se fala, não quer saber
de liberdade. Não importa se você seja linda com uns quilinhos a mais, venda
saúde e se exercite com frequência – se não for igualzinha às capas de revistas
e aos artistas da Globo, nada feito. É feio, é out, é ruim. Então trabalhe nisso!
E é tudo muito simples. Pegue qualquer dieta, faça, mude
do nada, evite médicos e siga os conselhos que te dão. Como se todo mundo
tivesse o mesmo organismo, metabolismo e fosse igualzinho. Só que é isso mesmo:
o discurso é feito para que todos sejamos iguais. E claro, aceitos. Para que
todos possamos ser felizes, ser maravilhosas “GiselesBundchens”, magérrimas,
com filhos, carreiras e maridos belíssimos. Porém, (e sempre existe um porém)
não somos todos “Giseles”. E temos que no mínimo começar a entender isso.
O
corpo por si mesmo sempre esteve em debate. E não é de hoje não. A busca
incessante pelo "corpo perfeito" vem desde a Grécia Antiga, há cerca
de 2.500 anos a.C. Nesta época os gregos primavam por um corpo escultural,
esteticamente harmônico, e este corpo era radicalmente idealizado, treinado e exposto.
Sim, exposto. Eles construíam seus corpos através de muito esforço e suor, os
esculpiam e modelavam em ginásios, então exibi-los era quase que uma recompensa.
Toda essa atividade é que acabou formalizando a expressão "Deus
grego", empregada até hoje para exemplificar uma pessoa exageradamente
bonita.
Já na Idade Média, seios fartos e quadris largos eram
o sonho de consumo de qualquer mulher. No século VIII, uma barriguinha maior era
sinônimo de culto e adoração: algumas chegavam
(acredite!) a colocar enchimento embaixo da roupa, já que a ideia de ventre
saliente era associado à Virgem Maria e sua gravidez imaculada. As gordinhas
também eram a preferência durante o Renascimento. Nesta época, as gordurinhas
localizadas – hoje inimigas declaradíssimas de toda e qualquer mulher – eram sinônimo
de saúde, visto que a “Peste Negra” havia eliminado quase dois terços da
população.
Independente
da época, a sociedade e seu discurso homogêneo de beleza sempre levaram as
mulheres a almejarem corpos perfeitos, esculturais e quase sempre irreais. Os
padrões estéticos se modificaram durante os anos, mas a busca incessante por um
corpo esteticamente perfeito e aceito, considerando os padrões impostos, sempre
fizeram parte da vida de todo e qualquer ser humano no mundo. Porém, quando a
fixação por um corpo escultural foge do convencional e da vaidade aceitável, é
preciso abrir o olho.
Nos
últimos anos houve um boom de blogs,
perfis no Facebook, Twitter e Instagram, dedicados desde a busca por um corpo
perfeito e um ''lifestyle'' tido como
saudável. Com esse discurso cada vez mais forte, enraizado e amplamente
disseminado pela mídia, alguns indivíduos acabam extrapolando os limites da
vaidade e colocam a própria vida em risco, em nome de um ideal que às vezes nem
lhe é próprio. É algo que é visto, dito, influenciado, mas muito pouco de fato,
sentido. Até agora falamos muito sobre beleza. Entretanto, o que é ser belo? Se
a beleza não possui exatamente uma fórmula, pelo quê está se lutando? No quê,
no final das contas, queremos nos transformar?
É
uma busca que terminam sendo muito cara, principalmente no quesito psicológico.
Doenças como anorexia, bulimia e até mesmo a depressão, considerada o “mal do
século”, de uma forma cada vez mais frequente atuam sobre fatores em comum: o
peso, o corpo e autoestima. Muitas pessoas, não satisfeitas com sua aparência e
consideradas fora do padrão, acabam entrando em um estado complicado de neurose,
e até de obsessão, que podem acarretar em consequências sérias, como o
suicídio.
Para
os que efetivamente buscam uma mudança corporal, é preciso entender que não
existe milagre. E ao se deparar com as famosas soluções drásticas e efetivas, é
necessário desconfiar dos resultados que, muitas vezes, chegam a ser
fisiologicamente impossíveis. Para se fazer dieta com base em experiências de
outras pessoas, por exemplo, é preciso ter em mente que elas têm que ter
hábitos e necessidades semelhantes aos seus. Para que essa mudança não
prejudique o organismo e seu sucesso não seja apenas momentâneo, há de se
adotar um estilo de vida que seja compatível, não só com o que você quer, mas
com o que você pode e precisa. Na equação da aparência e da beleza, a saúde tem
que começar a vir em primeiro lugar: saúde física não existe sem saúde mental.
Também
há outro fator importante nesta conversa: você. A beleza e seus ideais sempre
vão existir. E sempre serão subjetivos, diferentes, e sim, inalcançáveis. Todos
somos diferentes, reais, imperfeitos, iguais à moça da padaria e o carteiro. E
por que não, mesmo assim, bonitos?
4 comentários:
Esse assunto sobre corpo perfeito ou emagrecer para ter um "corpo ideal" é muito interessante e importante.Esse tema que o grupo escolheu tem muito haver comigo. A pouco tempo passei por vários problemas de saúde, tendo como principal causador, a busca para perder peso.Texto perfeito.
Não existe padrão de beleza melhor do que você amar a si mesmo do jeito que é. É uma loucura sacrificar seu corpo por uma medida perfeita inexistente.
Assunto muito pertinente! Texto muito bom! Me deparo sempre com esse tema na escola, o que transparece na vida de muitos alunos e não se restringe ao sexo feminino, abrange muitas pessoas do sexo masculino, principalmente no que se refere a uso de anabolizantes. Alguns alunos, mesmo após intervenções preventivas na escola, foram parar no hospital e viveram por sorte! Parabéns ao grupo pela ideia que sempre deve ser revisitada e debatida!
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