terça-feira, 25 de agosto de 2009

E a novela da ausência de mediação escolar prossegue

“Are Bába”; “Atchá”;
“Baguan Keliê”!
As expressões indianas apresentadas na novela do horário “nobre” (?) da principal emissora de televisão do país já estão “na boca do povo”. O fato não é novo, ao contrário, enfadonho e frequente.Já estamos acostumados a conviver com essa dinâmica cultural que nos entretêm ao passo em que nos banaliza. Essa disseminação de hábitos, valores e opiniões adquiridos e reproduzidos em escala nacional de maneira compulsiva e desenfreada já foi bastante problematizada por pesadores e críticos de diferentes áreas do conhecimento. A indústria cultural para alguns já não passa de um modelo teórico arcaico, anacrônico, atropelado pela nova esteira de possibilidade da abertura do pólo emissor da comunicação (Será mesmo?).
O que continua a me incomodar é a capacidade (ou incapacidade) que a escola detém de tentar se manter imune ao diálogo com o mundo que nos sintoniza à determinadas realidades. A onda que nos invade não é só fonética. Imagino as festas à fantasia que nossa juventude frequenta o quão “chapadas” de indianas devem estar. No centro de Aracaju, cidade onde resíduo atualmente, me angustia ver, ou principalmente ouvir, os altos falantes com os temas musicais da novela. Nem mesmo o tecno-brega ou o arrocha da indústria cultural local foi capaz de resistir. Interessante notar as contradições da mercadorização da cultura. A indústria cultural local lutando contra a dominação de “outra” cultura industrializada de cunho mais global. As professoras de dança do ventre devem estar com os bolsos cheios. Não tenho qualquer estatística sobre isso, assim como não sou tolo ao ponto de imaginar que essa prática não esteja em alta. Também não quero incitar que somos todos presas fáceis dos meios de comunicação ou idiotas completos, que não se dão conta das relações de poder e/ ou dominação presentes nas relações sociais de todo tipo, especialmente nas relações comunicativas estabelecidas entre nós e a mídia.
Are Bába! Mas o que a escola tem a ver com isso mesmo? Afinal, uma “nova cultura” foi e vem sendo disseminada. Não estaria a educação nacional se valendo de um beneficio, posto que em troca de nossa misera atenção, chamada por alguns especialistas de audiência, nos é oferecido o contato com uma nova forma de cultura? Um dos problemas reside exatamente ai, no centro ou no meio desta questão. A escola deveria nos auxiliar a exercermos nossa cidadania, nossa capacidade crítica, entre outros atributos, a partir de uma mediação da cultura em que vivemos (e damos vida) cotidianamente. O pressuposto da mídia-educação também transita por tal tese. O termo mediação nos remete ao ato de estar no meio, no centro das questões. Do centro podemos apontar para diferentes direções. Imagino que nem a cultura indiana, nem a cultura midiática tem sido alvo de olhares atentos na escola, mesmo em tempos de Caminhos das Indias. Conceber uma escola que se coloque no meio das imagens de nossas novelas e do cinema de Bolywodd (indústria de cinema indiana), por exemplo, do filme “Quem quer ser um milionário”, visando o choque entre diferentes formas de ver a tal cultura indiana...isso é devaneio. A vida segue, a novela segue e a escolas seguem....ausentes de mediações. O que fica é a angustia: Como conceber uma escola mediadora quando esta se situa à margem do universo simbólico que nos conecta com novas formas culturais?

2 comentários:

Cristiano Mezzaroba disse...

Dieguito, parabéns pelas reflexões! Vêm no momento certo. Mas também não seria este o momento certo daqueles que atuam nas escolas - e que com certeza também estão imersos nessa cultura da novela das oito - voltarem-se àquilo que está "na boca do povo" pra fazerem tal mediação? Pensando apenas nas questões que nos são pertinentes, como professores de EF, olha a riqueza que uma novela como essa nos dá pra "ouvirmos" nossos alunos e pautarmos nossas discussões? A dança, a música, a relação com o corpo, com a própria publicidade, as diferenças culturais (tão estereotipadas na novela), a língua, enfim, as pistas e os elementos estão aí... Acho que ainda somos poucos os "observadores", cabe aos cursos de EF, ainda, uma tematização desses conteúdos na formação acadêmica. Cabe, também, lembrarmos do quão importante outra mediação deve se fazer presente neste caso: a familiar. Vamos discutindo, buscando pistas, trocando ideias, tentando soluções pra essa trama complexa que é a nossa realidade.

Diego S. Mendes disse...

Sim Cristiano,

a postagem exatamente suscitar o debate. Penso que há uma imensidão de elementos que podem e devem ser mediados na/pela escola e, certamente, pela Educação Física. Vamos seguir estimulando o debate. Quem sabe novas opiniões não aparecerão?
Um abraço.

Diego S. Mendes