terça-feira, 10 de agosto de 2010

Globo e seleção: ambiguidades...

Confesso que estou tendo algumas dificuldades para entender as novas relações entre Globo e seleção brasileira, estabelecidas após a saída de Dunga.
O nome de Mano Menezes não chegou a ser uma unanimidade no período que antecedeu a sua escolha e mesmo logo após ser anunciado. A Globo só passou a abençoa-la na medida em que saiu, 3 dias depois, a primeira convocação e lá estavam os requisitados Ganso e Neymar.
Bem, estava claro que a CBF tratava de fazer tudo para agradar a Globo: Mano deu a primeira entrevista individual à venus platinada antes de 24 horas após o seu anuncio como novo treinador (impensável na era Dunga). Essa via-crucis marcou os dias até a ida da seleção para os EUA.
Hoje, numa puxa-saquismo inacreditável, os jogadores da seleção entregaram ao Escobar, personagem da briga Dunga x Globo, uma camiseta 10, autografada e personalizada.
Pois bem, tudo isso nao foi suficiente para fazer com que a Globo abrisse uma janela na sua programação de novelas para transmitir o jogo com os EUA. E mais: também não aceitou vender os direitos que detem para a Bandeirantes, fazendo com que a imensa população brasileira que só tem acesso a TV aberta ficasse sem condições de assistir o jogo.
São tortuosos essas caminhos... Observemos, pois!

6 comentários:

Cristiano Mezzaroba disse...

Pois então, "fiquei de cara" quando, vendo o Globo Esporte, hoje ao meio-dia, o Escobar falou da camiseta presenteada. No início, achei que fosse brincadeira, mas não, era "de verdade".
Comentei com minha família: "até quando o Mano Menezes acha que terá uma relação tão harmoniosa assim com a toda-poderosa Globo?"
Sei lá, pra mim esse puxa-saquismo é de medo da Globo mesmo! Neste aspecto, era defensor do Dunga!Acho que vou aderir à campanha que vi na "A Grande Família": TÁ TUDO ERRADO!!! hehehe
Com a primeira derrota, ou com os primeiros "nãos" à Globo, quero ver onde esse "casamento" vai parar...

Silvan Menezes disse...

Pois é Cristiano, quanta surpresa ou talvez mesmice nessa noite de "renovação da seleção".
Durante o final de semana fiquei um pouco desconfiado com as propagandas da Sportv sobre o jogo, a todo instante eles frizavam "Transmissão da nova seleção com EXCLUSIVIDADE pela Sportv", num é que foi mesmo.
A relação CBF e GLOBO tá um tanto quanto estranha.
Mas pensando bem, o jogo em tv fechada em plena terça-feira motivou aos "Guerreiros brasileiros e brameiros" a começarem a vida já no início da semana nos bares do país.
Seguiremos desconfiando!

mazinho disse...

Quem ganha com isso?
Uma coisa é certa: a transmissão somente em canal fechado possibilita maior rentabilidade para os proprietários de espaços de lazer destinados a tal fim,isto é, a mercadoria futebol propiciando outras!!

Giovani Pires disse...

O Galvão Bueno está na mídia esse final de semana, não como jornalista mas como entrevistado.
Folha, UOL e outros deram pequenos espaços a ele, mas a Veja fez uma grande reportagem.
Entre outras coisas, ele jura que pára mesmo em 2014, que está com problemas na garganta, e que se diz feliz porque o estilo Dunga não vingou na seleção.
Bem, sobre seleção de Dunga ele não economiza nada, reclama até que o treinador não foi receber os atletas na saida do gramado, depois de perder para a Holanda.
Pode-se perceber claramente a satisfação dele com a queda do Dunga e com a "readequação" do Brasil ao estilo brasileiro na "era" Manos Menezes.
Ele se insere neste campo como o porta-voz da Globo, dando aval aos movimentos da CBF (e do novo treinador), no sentido de agradar a emissora do Jardim Botanico.
O cara é um oportunista!

Gustavo Roese Sanfelice disse...

Escrevi um texto sobre essa relação e mandei para ZH aqui em POA e obviamente não saiu.

DUNGA E SUA RELAÇÃO COM A MÍDIA

Nos últimos dias o país está em clima de Copa, que acontece a cada quatro anos e movimenta os corações dos brasileiros e o mercado. Nem que não queiramos não ver, ouvir ou sentir, a Copa e as cores da seleção brasileira estão por todos os lados. O som das vuvuzelas, as bandeiras nas ruas, nos ônibus, bares, escritórios, enfim, na MÍDIA.
Impossível não ver na TV grande destaque a esse evento na grade televisiva, bem como nos jornais, que estampam em primeira página fotos e textos sobre a Copa. Tente achar nas páginas dos principais sites brasileiros dados do mercado financeiro (cotação do dólar e bolsa de valores), certamente terás dificuldade.
Isso sem dúvida prova do valor sociocultural e comercial que este evento tem na sociedade brasileira e mundial. Nessa “overdose” de Copa, o que salta aos olhos nos últimos dias além dos jogos dentro de campo, é a relação do técnico da seleção brasileira de futebol, o nosso Dunga!
No último domingo tivemos o incidente com o repórter da Rede Globo Alex Escobar, onde ficou evidenciado ali um descompasso entre a ação de Dunga como técnico da seleção brasileira, e certamente como podemos dizer um homem público, e o repórter, que no mínimo podemos dizer que não está acima do bem e do mal.
O grande problema dessa relação é a falta de clareza dos papeis tanto de Dunga, como homem público, e da Mídia, que invariavelmente tem se mostrado corporativista e acolhedora de seus interesses comerciais. Não sejamos ingênuos em achar que as mídias são um espelho da sociedade, que apenas refletem o que a sociedade demanda. Essa proposição é muito defendida pelos meios de comunicação e rechaçada por pesquisadores da área. Não há imparcialidade e nem reflexibilidade social neste processo de produção da notícia! Quando Alex Escobar se dá o direito de balançar a cabeça e discordar de Dunga corporalmente, ele está significando para ele a sua posição naquele momento.
Os jornalistas não tem linha direta com o povo como costumam dizer que são representantes destes. Eles “apenas” fazem uma leitura superficial (não são detentores de todos os conhecimentos, ninguém é) da sociedade e jogam isso como verdade. Um jornalista produz a partir de uma linha editorial de seu veículo, de sua forma de pensar e agir sobre o mundo e as coisas e principalmente, tentando legitimar seu espaço profissional. Qual jornalista esportivo hoje não tem seu blog ou twitter?
Deem o tempo e espaço que Dunga precisar e não venham com discursos canônicos, pois a mídia não está mais próxima de Deus e nem tem linha direta! Nada justifica a atitude de Dunga, porém a mídia, representada pelos jornalistas e cronistas, não é imparcial como pinta.
Gustavo Roese Sanfelice – professor universitário e doutor em Ciências da Comunicação

Cristiano Mezzaroba disse...

Grande texto, Gustavo! merecia uma postagem pra dar mais visibilidade. Nem todo mundo que acompanha o blog chega a ler os comentários... Parabéns! E pela "parcialidade" da mídia, era ÓBVIO que ZH não publicaria teu texto! (hehehe)