terça-feira, 19 de outubro de 2010

O lugar do outro na Mídia-Educação

Uma das questões que me toca a alma é a perspectiva (mesmo que em muitos casos ela ainda exista apenas em "potência") de que o uso das diferentes ferramentas digitais que permeiam o nosso cotidiano ajude a construir um contexto onde a liberdade de expressão, a cooperação, a mobilização social deixem de ser tão escassos, ou mesmo coibidos com censura, deboche, desprezo. Só é possível ter liberdade com respeito ao outro, ao diferente. E em questão de respeito, a sociedade (e nós individualmente) engatinha. Ou melhor: rasteja.

Os diferentes usos da internet vem criando um tecido de conexão que nos conecta, nos une uns aos outros. "Vem criando" assim mesmo, no gerúndio. É um processo em andamento, aberto, que não sabemos onde vai parar. Será que estamos preparados para lidar com a proximidade da dimensão do outro? Será que estamos preparados para nos expressar em ambientes que fazem as fronteiras entre público e privado se tornarem permeáveis, ou mesmo imperceptíveis? Será que estamos preparados para aceitar, respeitar e dialogar com a expressão do outro cada vez mais presente, próxima? O que podemos aprender com a perspectiva explícita de trocas cada vez mais intensas entre as pessoas?

Cidadania não pode ser um chavão que lançamos mão para falar bonito. As dimensões da cidadania foram ampliadas. Os direitos e obrigações de cada um de nós se transformam à medida em que viver em uma comunidade politicamente articulada pressupõe também a convivência em espaços digitais com um amplo potencial de expressão individual e coletiva.

Se queremos falar em Mídia-Educação, precisamos discutir o que é cidadania digital. Não basta sermos críticos, se não suportarmos a opinião do outro. Não adianta sermos criativos e produzirmos usando as tecnologias digitais, se não respeitarmos a liberdade que o outro também tem de criar e tornar pública sua criação.

Ser um cidadão digital não é jogar contra o outro, é brincar com o outro. Não é jogo de tênis, onde o objetivo é sobrepujar o adversário, interromper o diálogo, colocar a bola no chão e marcar o ponto. É jogar frescobol, manter a bola no ar, facilitar a rebatida do outro, continuar o papo, crescer junto.

Não estamos no universo de Star Wars. O outro, diferente, não se alinha a um lado negro da força. Se usarmos as tecnologias digitais apenas para reforçar nossa individualidade, ficaremos cada vez mais parecidos com a canção do Lenine:

Umbigo meu nome é umbigo
Gosto muito de conversar comigo
Umbigo meu nome é espelho
Não dou ouvidos nem peço conselhos
Umbigo meu nome é certeza
Só é real o que convém à realeza
Umbigo meu nome é verdade
Sou o dono do mundo e o rei da cidade

Vamos conversar com os outros, ampliar os ouvidos, ouvir bons conselhos! Vamos minar nossas certezas, deixar de conveniências, superar o tempo da realeza! Vamos trocar experiências, valorizar as conquistas coletivas! Mas também vamos vibrar com as conquistas individuais: só alcançamos algo quando agimos em grupo com cooperação, não com competição.

Além do bem e do mal, o sinal está verde. Se fazer um mundo melhor parece utopia, uma vida melhor pode ser possível, desde que saibamos, na permeabilidade entre os espaços online e offline, compartilhar nossas experiências, respeitar as diferenças e resgatar o prazer que é ter parcerias ao nosso redor.


Este texto é dedicado ao LaboMídia.

10 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto camarada Rogério. Tens o talento da poesia! Parabéns, Paula.

Angel disse...

Esse texto Rogério, diz muito... cada frase tem um sentido, um sentido bom para nossas vidas, que move muita reflexão..
Beijos

Silvan Menezes disse...

Já que estamos no momento pós-Enome e o texto provoca mto boas reflexões, além de dedicado ao grupo, digo que o texto é "Inequalável" rsss...
Parabéns Rogério

Fábio Messa disse...

ô rapá!!! deveria ter fechado a mesa com essa fala. abração

Carol Garcia disse...

Muito bom mesmo!!

Carol Garcia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Bom Rogério para nossas reflexões. às vezes apostamos na tecnologia como se ela fosse resolver nossas vaidades, prepotências, arrogância e outras coisinhas mais da caixa de Pandora e esquecemos dos sujeitos. Minha aposta é no sujeito, é na formação. Não dá prá falar de cidadania e falar em tolerãncia quando o outro não sou Eu. O outro é um ser inventado. Quantas vezes deixamos o outro na "mão", pois o outro não sou Eu.Quantas vezes fingimos que não vemos, pois o outro não sou Eu. Fingimos que não é comigo, com você, com todos nós...pois não sou Eu. Por isto que amo este Grupo e compartilho o máximo de mim, pois aprendi, com nosso grande Guru - Gio - o valor da sinceridade, honestidade, principalmente da philia (aqui, no sentido mais extenso/extremo possível). Foi assim que aprendi a olhar para mídia(educação) formação, pensando nos outros..."uma vida só vale ser vivida, quando vivida para os outros..."(Eistein)
Sérgio Dorenski

Anônimo disse...

Faltou um "n"! Einstein! Esse é o cara!
Sérgio Dorenski

Anônimo disse...

Excelente texto e homenagem ao grupo.

parabéns.
Scheila Antunes

Tamires Oliveira disse...

Bela postagem!!
Parabéns