Segue abaixo mais uma postagem referente às reflexões dos acadêmicos/as matriculados na disciplina de "Educação Física, Esporte e Mídia" do semestre 2012-2, do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe. A autoria deste texto é de José Roberto de Santana, da turma A. Leiam, reflitam a respeito e deixem seus comentários! São sempre bem-vindos!
A ESCOLA COMO MEDIADOR DO ESPORTE
A
necessidade de buscar na escola um alicerce de futuros atletas transforma o
esporte escolar num trampolim para que os professores de Educação Física formem
verdadeiros medalhistas. Hoje, os colégios procuram, sim, alunos-atletas que
possam conquistar muitas medalhas e com isso mais alunos, mais atletas, mais
medalhas e por fim, alunos condicionados ao esporte de rendimento. Isso em
muitos estados do Brasil torna-se a única maneira de se praticar o esporte em
nível diferente do amador e é o caminho que existe para alguns atletas
conseguirem chegar ao esporte profissional.
O
fato é que a prática esportiva está fortemente orientada pelos princípios do rendimento e da competição
(cfe. BRACHT, 1992); e o espaço escolar é regido pelo seu processo político pedagógico,
“teoricamente autônomo”; o problema, é que se perde com esse esporte de alto
nível toda a metodologia pedagógica e se firma na competitividade, na
individualidade e na busca incessante por medalhas e prestígio para o colégio
(como é o caso de Sergipe, em especial suas escolas particulares).
Sendo
assim, no âmbito escolar exige (deveria exigir) uma abordagem reflexiva que se
considere também a importância de se trabalhar com a mídia no processo pedagógico; a idéia-chave é saber relacionar
todo o aparato tecnológico para fazer com que se possa refletir e discutir o
conteúdo a ser dado/trabalhado em sala de aula. Ao mesmo tempo em que passamos
a lidar com a linguagem midiática de forma pedagógica, devemos ter a habilidade
de nos apropriarmos dessas novas ferramentas que não podem ser despercebidas
pelo professor, pois, já se constituem presentes na vida cotidiana do aluno.
Cada escola tem sua
realidade e é a partir desta que poderemos concretizar experiências
significativas no esclarecimento de
como é de fato o esporte de rendimento e o esporte com os princípios básicos
para que se alcance o verdadeiro ensino-aprendizagem. O que queremos discutir é
que esse processo de esportivização é
de fato um artifício do sistema capitalista. E assim, confunde os educadores no
momento que são “manipulados” (exigidos?) pelos diretores de colégios que
buscam apenas as “medalhas” e com isso mais alunos matriculados no seu colégio
(ou seja, a relação “ensino de qualidade” está pautada nas “medalhas
conquistadas em jogos escolares estaduais”).
O exemplo mais fácil de
se constatar é aqui mesmo em Aracaju/SE, quando muitas escolas particulares
costumam dar bolsas a alunos de outros colégios que se destaquem em algum
esporte; tirando os melhores atletas de seus colégios, normalmente de escolas
públicas, e levando para colégios particulares. Esse tipo de situação ocorre
principalmente visando os campeonatos que são cobertos pela imprensa,
principalmente a TV Sergipe, afiliada à TV Globo, que criou um campeonato
escolar para ter a cobertura absoluta do evento os “jogos escolares da TV
Sergipe” que é um dos campeonatos escolares mais disputados do estado.
Vejam
que a educação processa-se de acordo com a compreensão da realidade social em
que está inserida, ou seja, a educação sofre influência daquilo que a circunda,
ao mesmo tempo que também impacta em tal realidade. E muitas das vezes, é
através das questões econômicas e competitivas que os colégios assumem como
prioridades a sua política pedagógica; sendo assim, o sistema educacional (público)
é caracterizado como incompetente, recebendo a culpa pelo desemprego, falta de
competências técnicas da população e outras responsabilidades impostas pelo
discurso neoliberal.
Sendo
assim, pensamos que devemos como
profissionais da Educação Física compreender o esporte nos seus múltiplos
sentidos e conceitos, para que possamos agir com liberdade e autonomia, e
assim, ter capacidade objetiva de saber efetivamente praticar o esporte, como
capacidade de interação social e de comunicação. Já que na escola o esporte não
deve ser algo apenas para ser praticado, mas sim estudado pedagogicamente.
Sem
contar que o campo da Educação Física e da mídia tem se aproximado – ou melhor,
interagido – de forma, às vezes, contundente. Falar em formação sem pensar na
influência da mídia, significa dizer que está em outro momento, anacrônico. A
própria mídia televisiva já trata o esporte com um destaque único entre as
diversas temáticas que são trabalhadas pelo campo jornalístico. Sendo assim, o
que devemos fazer como professores é saber trabalhar a tecnologia de forma que
sirva aos anseios do espaço escolar; além do mais, trazer acontecimentos que
mostrem a realidade midiática e esportiva para os seus alunos em sala de aula é
o dever de um bom educador e de um preocupado professor com que se passa na
mídia de forma geral. Um cidadão que tem responsabilidades sociais e
pedagógicas com outros cidadãos!
Portanto,
a escola precisa discutir o esporte, recriá-lo, desenvolver valores assentados
no coletivismo, pensar a integração do corpo discente sem seleção dos melhores,
enfim, a escola e o esporte comungam do mesmo objetivo, que é a compreensão da
essência do esporte na sua vida. O esporte nas aulas de Educação Física foi
canalizado como finalidade, não como meio, no entanto a aprendizagem limita-se às
técnicas esportivas (nem isso ultimamente!) e à incorporação de suas normas.
Assim, como professores de Educação Física temos o dever de mostrar esse
fenômeno da esportivização, como também, o processo influente que a mídia
possui sobre as pessoas; mas, também, trabalhar pela construção de uma escola
universal, que respeita as diferenças locais, regionais, nacionais, enfim, a
diversidade cultural existente na sociedade e no cotidiano de cada aluno.
7 comentários:
Bom, primeiramente quero parabeniza-lo pelo texto e dizer que gostei muito dos apontamentos, Roberto.
Agora, quero dizer que o interessante no contexto sergipano com relação ao assunto, é que a ênfase da mídia aqui tem dois momentos com relação as escolas e principalmente as particulares. O primeiro diz que este ou aquele é o colégio que mais aprova no vestibular, o segundo é que este ou aquele é o campeão de diversas competições escolares... E o que me incomoda com isso tudo,... "não estou dizendo que deveria ser assim...", mas até agora não vi nenhuma relação entre os aprovados nos vestibulares e os campeões das modalidades. Não é estranho as escolas não fazerem referência a este ou a aquele aluno, que além de ser um bom praticante (Campeão) de uma determinada modalidade, é um exemplo na sala de aula. Acho que da para perceber que as escolas com o auxilio da mídia utilizam os discursos de uma forma que favoreça seus interesses e que estes não sejam questionados, já que as vezes nem percebemos isso. Quero dizer também, meio que reforçando o que já foi dito, que isso é realmente o papel de um professor que possui um compromisso politico-social com a formação do cidadão(aluno), que está a mercê desses discursos de que tudo no esporte é as mil maravilhas.
Pensando na profissionalização esportiva, podemos dizer no nosso caso não somos tão próximos dessa realidade, são minimas as condições e chances de se chegar a alto nível em nosso contexto. Então, se pensarmos em tratar dessas questões no contexto escolar temos que pensar que esse "neoliberalismo", tão enfatizado nos dias atuais, não faz com que os alunos compreendam a realidade... E essa é só uma das questões que podem ser esclarecidas pelo professor, para que o aluno não apenas absorva tal discurso como verdadeiro e entenda que existem outras questões a serem consideradas no contexto dos esportes que eles praticam na escola com um único objetivo.
Bom valeu! Acho que já dá para iniciar uma boa discussão.
Primeiramente quero parabenizar Jose Roberto pelo texto, já que é uma tema que precisa e deve ser discutido.
É notável o desleixo dos profissionais que trabalham com ensino para com a influencia da mídia. Na área de Educação Física pode perceber que a mídia exerce um poder mais definido, pois como podemos perceber, os esportes foram transformados em grandes espetáculos, sugiram marcas, clubes, e porque não falar em atletas, ou melhor, dizendo, “estrelas” dos esportes. E por que não formar atletas nas aulas de educação física para que as escolas possam exibir o numero de medalhas que ganharam nos jogos escolares e assim trazer mais alunos para a sua escolar. É assim que algumas escolas de Aracaju procuram fazer. Aulas de Educação Física exclusivamente voltadas para o esporte de alto rendimento, uma percepção equivocada das escolas,e esta não estão preocupar com o processo educativo das aulas de educação física, a qual deveria ter um caráter eminentemente social, ao compreender o esporte como uma manifestação que envolve a coletividade, uma cultural, um meio de se relacionar, aprender a vencer e principalmente a perder, ou seja, uma relação de esporte-educação. Em relação à mídia o professor deve ter a aptidão de mostrar aos alunos o sentido implico e explicito das informações oferecidas pela mídia, e assim, a partir de seus conhecimentos, torna-se crítico sendo um receptor ativo, seletivo e autônomo, criando seu próprio significado para as informações da mídia. Lembrando que não só o professor de Educação Física tem esse dever, mas as escolas junto com os demais professores precisam está engajados nesta perspectiva e buscar novas estratégias e novos olhares em relação a mídia e a educação. Bom, finalizo dizendo que a mídia é sim uma boa aliada nos tempos de tecnologia em que estão vivendo, basta que nós usuários saibamos usá-la de forma correta, sendo critico e não deixando que as informações ali expostas possam nos convencer.
É isso ai pessoal, valeu!!!!!
Parabéns Pessoas aos textos, leituras, postagens, comentários...vejo o Blog mais qualificado! pegando uma ponte com o Eduardo..., pois é, sabemos que incompatível uma vida escolar - de atleta de rendimento - e o ingresso na na Universidade pública, que há vestibular, enem, etc.. Por quê? simplesmente não há tempo suficiante para as duas "proezas". Vejam os exemplos dos atletas sergipanos (profissionais/amadores) que se destacaram em seleções olímpicas, mundiais e etc..., onde estuda hoje após o período de auge? Como e onde fizeram seus cursos superiores?...Para fechar, considero importante que os alunos das escolas vivenciem todas as práticas esportivas, sem com isso virá uma doença. Dou sempre o exemplo do Colégio de Aplicação que há um planejamento e os alunos vivenciam tudo da cultura corporal...inclusive o esporte.
Em primeiro lugar quero parabenizar o grupo pela postagens e tema abordado. Ao ler este texto me vem a cabeça o slogan de uma das escolas "particulares" de Aracaju, que consiste em : escola "A" 1° LUGAR NOS JOGOS DA PRIMAVERA E FORMANDO CIDADÃES PARA A VIDA. Ou seja vejamos como a banalização do esporte serve de suporte para alto promoção dos mesmo, esta instituição usa o seu quadro de medalhas para passar a ideia que isto forma para a vida, sem levar em consideração a própria educação dos alunos seus diferenças, qualidade dentre outros aspectos, me pergunto, e os que estudam nesta escola e não praticam esporte? pela "logica da escola " este não estão dentro deste conceito de formação de vida, logo como podem se encaixar no mesmo ? Ou seja a própria instituição se perde na sua ideologia. Outro aspecto que sustenta esta ideologia é a própria mídia sergipana, que salienta em seus programas a história dos vencedores, descontextualizando o esporte e criando uma cultura esportiva dentro da escola. No mais parabenizo novamente o grupo e os debates feitos até este momento.
Primeiramente gostaria de parabenizar José Roberto pelo tema do texto e as discussões expostas durante o mesmo. Um tema bastante presente na nossa realidade escolar. Esporte e educação, apesar da escola possuir o dever de dar acesso a um conhecimento sistematizado e organizado em procedimentos pedagógicos, o esporte não está se encaixando nesse contexto, já que o próprio é trabalhado nas aulas de educação física como rendimento (ou seja, gestos técnicos e transmissão de regras e normas), vendo o aluno em formação como um atleta, assim excluindo aqueles que não possuem certas habilidades para o seu desenvolvimento. Percebe-se que as aulas de educação física escolar não se remete apenas ao esporte, este é apenas uma das práticas da cultura corporal de movimento, nesse caso, não podendo ser somente transmitido esse conteúdo nas aulas, além de ser somente trabalhado de forma prática e não atividade associada a reflexão, a compreensão do que o aluno está fazendo, partindo dos conhecimento prévios dos discentes para que estes possam fazer relações com sua realidade e entende-la.
Sendo assim, a mídia por transformar a esportização das práticas corporais em espetáculo como estratégias de interesses econômicos, na mesma linha as escolas privadas fazem a divulgação da sua instituição fazendo a relação de ensino de qualidade com as medalhas conquistadas pelos alunos-atleta em jogos escolares. Tudo isso com o interesse de conquistar mais clientela para sua escola. Agora uma combinação errada, pois esporte de alto rendimento exige muito do aluno-atleta, esforços físicos, dedicação e horas de treinos e os estudos ficam onde nessa relação, já que para estudar também precisa dedicação? Como fazer essa relação?
Vejo que o esporte dentro do âmbito escolar deve ser repensado e recriado, passando a possuir objetivos educacionais para atender as necessidades básicas dos alunos em formação. E nesse caso, os profissionais de educação física devem repensar sua práxis pedagógica, ou seja, o que sua prática está prejudicando ou contribuindo para o desenvolvimento do aluno.
Para finalizar penso que devemos lembrar que a escola não é lugar de formar atletas e sim contribuir para a formação de um sujeito crítico e autônomo. Assim, usar a mídia como uma nova ferramenta nas aulas seria uma opção bastante interessante, já que ela está inserida profundamente no nosso cotidiano. Diante disso, mostrando aos alunos o lado positivo e negativo dos meios midiáticos, como usa-los de formar correta, sendo seletivo, crítico e não tomando todas as noticias como verdades absolutas.
Luis Roberto, parabéns pelo belo texto, gostei muito do que li! Inclusive chega um pouco no que pretendo tratar futuramente. Realmente é frustante o que acaba ocorrendo com os professores de qualquer ordem/componente curricular escolar, mais precisamente o professor de Educação Física, que é a sujeição a um padrão escolhido pela instituição escolar particular para se trabalhar o esporte como uma forma de manter seu apogeu, na sociedade, não priorizando o ensino reflexivo, mas o ensino técnico. E muitas vezes o que ocorre com a Educação Física no Ensino Médio é a exclusão desta, para este EM, ser voltado apenas para o pré-vestibular. Então, é isso que acaba ocorrendo no ensino particular, algo para podermos pensar a respeito e tentar não fazer igual ao que vemos.
Inicialmente quero parabenizar o colega José Roberto pela postagem e por ser o único até então dos grupos da turma de ESPORTE E MIDIA que postaram e postarão aqui no blog a fazer a postagem sozinho. Sobre o as ideias transmitidas na postagem vemos que esse meio capitalista que vivemos em que tudo termina sendo realizado no intuito de geração de renda imediata ou futura fazem com que alguns professores assumam uma obrigação, não de preparar os corpos e mentes dos alunos, de ser o responsável em trazer mais alunos para a escola, alunos que gostam e praticam modalidades esportivas e que obviamente adorariam esta numa escolar que ganha diversas competições e expõem essas suas conquistas em outdoor como modo de se beneficiar de tais resultados. Pois hoje em dia vemos que a imagem de conquista esportiva chega a competir com a imagem de aprovado no vestibular, e do mesmo jeito que as escolas dão bolsas a alunos excedentes de vestibulares dão a alunos que se mostram grandes promessas esportivas, e tais especulações fazem com que professores de ed. Física não apenas incluam o esporte em suas aulas como que as substituam por modalidades especificas e treinamento. Cabe a nos vermos o que esta ocorrendo termos bom sendo e tentarmos mudar esse mascaramento da ed. Física escolar de “auto-rendimento”.
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