mas não posso filosofar muito, o jogo está recomeçando! deixa pra lá... num país como o nosso, ser sério não conta! Segue artigo interessante sobre isso, publicado em Zero Hora deste domingo (20 de junho/2010).
E o Brasil faz 2x0...
20 de junho de 2010 N° 16372
ARTIGOS
20 de junho de 2010 N° 16372
ARTIGOS
A COPA DA CHINA, por Flávio Tavares - jornalista e escritor
Naquele distante e próximo ano de 1949, no colégio marista em Lajeado, o Irmão Canísio nos pediu “uma redação” de 40 linhas sobre o ludopédio. Ele era um purista do idioma e explicou: “ludus” é jogo em latim; “pedus” é pé. Jogávamos bola duas vezes por semana, mas só naquele dia soubemos que, em verdade, aquilo se chamava ludopédio e não foot-ball, como se escrevia na grafia original dos ingleses.Mesmo sob agasalho do melhor vernáculo, o ludopédio não sobreviveu na escrita nem na oralidade. O futebol o suplantou de goleada. Houve, porém uma exceção. Em plena ditadura, a 14 de dezembro de 1968, no dia seguinte ao totalitário Ato Institucional nº 5, um grande jornal carioca ressuscitou o termo na primeira página, em ironia. “Ludopédio” surgiu de chofre para mostrar aos leitores que havia censura e que, a partir dali, a imprensa estava ameaçada de tornar-se ridícula.O futebol (ou o desporto) é contagiante forma de descobrir o mundo. Séculos atrás, para saber que existia outra gente além do Mediterrâneo, as caravelas de Vasco da Gama, Colombo e Pedro Álvares Cabral enfrentaram tempestades durante meses por “mares nunca dantes navegados”. Agora, basta “a Copa”, dita assim, como algo autônomo, inteligível em si.Na euforia da Copa atual, em que o descobrimento maior é Nelson Mandela (não só seu país), há um campeão antecipado, proclamado mundo afora ao som das vuvuzelas.A China é a grande campeã, ainda que seu futebol não esteja na África do Sul. Tudo ou quase tudo referente à Copa é chinês. As fitas e bandeiras verde-amarelas nas praças, residências e automóveis, ou os gorros e camisas que vestimos, vieram da China, tal qual as dos “hermanos” argentinos ou dos demais participantes, incluídos os anfitriões. São “made in China” os uniformes das seleções, em maioria.Diz-se que o som instigante e irritante das vuvuzelas altera o ânimo e o ritmo dos jogadores, mais do que a nova bola inventada pela Fifa. As vuvuzelas africanas que irrompem nos estádios, porém, são feitas na China, num plástico que torna terrivelmente trepidante o som grave ou agudo, diferente das originais dos artesãos tribais.A produção em massa leva à profusão de vuvuzelas e bandeiras misturando berro e cor.O futebol funciona como anzol e único sol nestes dias frios e úmidos em que o calor surge da ansiedade pelos resultados. Em termos psicossociais, o Brasil está paralisado à espera da Copa. Exageramos na necessidade de acreditar em expectativas e deuses que se desfazem de um dia a outro como gelo ao sol, basta que Dunga não os leve à Seleção.Desde menino, admiro no futebol a beleza da dança que sequer o maravilhoso “ballet” de Galina Uliánova conseguiu superar. Indago-me, porém, se não é estranho o culto fanático e exacerbado a algo belo pela destreza e em que competir exige perder ou ganhar. E se déssemos às ciências, ou às letras, a importância que damos ao futebol?Escrevo agora de São Paulo, com a cidade entristecida de dor pela decisão da Fifa de excluir o estádio do Morumbi de sede da abertura da Copa de 2016. A maior cidade da América do Sul merece essa primazia, mas o governador paulista Alberto Goldman e o prefeito paulistano reafirmam que “não é justo aplicar dinheiro público em um estádio”. Corretíssimo!
Afinal, o lema de “pão e circo” da Roma Antiga passou à História como desprezível. Ou não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário