terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Novo Dogmatismo

O novo dogmatismo atende pelo nome de Rio 2016. A profissão de fé não aceita votos contrários e seu proselitismo invade os lares cotidianamente através dos sacerdotes imaculados que, trajando o manto da boa vontade e do bem comum, recitam o coro megalo-intransigente de que o circo arme a lona, ainda que não haja pão, tampouco lugar para todos. Aqueles que não tem fé, vão arder na fogueira da insanidade ou purgar no pessimismo dos ineptos.

Hoje, no culto midiático ordinário realizado as 13:00hs, as crianças foram chamadas a ler a cartilha. Na beira da piscina, as meninas de 10 anos de idade – muito bem alimentadas, ainda bem – renovaram o sonho mítico-nacional de atingir o céu participando do grupo dos eleitos para o rito final de 2016. Ao nadar sincronizadamente como os anjos – desviando a atenção apenas para as boas notas na escola e/mas com o apoio incondicional de pais, treinadores, cartolas e outros experts –, passam os dias a dar cambalhotas ritmadas na infância roubada do treinamento; faça chuva, ou faça sol.

Mas a fé remove montanhas... E as promessas de futuro, boas, belas e insuspeitas, são a garantia do pleno desenvolvimento da alma, da fortificação do caráter e, quem sabe, dos resultados vitoriosos aos quais, ironicamente, os escolhidos pertencem. No slogam cíclico do reino eterno, “brincando nada, treinando para as Olimpíadas de” 2016, a doutrina de Estado reinventa o populismo democrático de direita do “Yes, we can” e reivindica aos fiéis (e infiéis) todos os esforços para que se cumpra o compromisso firmado diante dos “senhores dos anéis”. O contrato milagro-nacionalista não aceita indecisões. É o fim do “complexo de vira-latas” através da prova definitiva de DNA. Paradoxalmente, provar é tudo o que aqueles que se entendem como iguais não necessitam.

Por fim, o discurso sinuoso convoca a adesão obsessiva (ou a obsessão adesiva) e dogmática: em nome da verdade, da justiça, do bem comum, dos bons costumes... e, por certo, de um “punhado” de bilhões de dólares.

Ferbit

(mais um publicitário ato falho: a primeira postagem a gente nunca esquece!!!)

4 comentários:

Fernando G. Bitencourt disse...

Desculpa pessoal, acho que a letra ficou grande. Ah os neófitos!!!

Giovani Pires disse...

Casseta, Fernandão, que estréia!
Paliça de primeira...
Seja bem-vindo ao blog e volte sempre a postar suas cronicas aqui. Temos muito o que aprender e dialogar contigo.

Cristiano Mezzaroba disse...

Grande Fernando!
Não por acaso, sentia falta das tuas postagens, inserção de conteúdos e provocações por aqui. Como bem escreveu Giovani, "que estreia!". Parabéns!!! Excelente reflexão, principalmente usando a palavra DOGMATISMO: a realização das Olimpíadas no Rio em 2016 está sendo tratada como uma verdade inquestionável, quem se coloca a pensar qualquer aspecto de caráter meramente crítico - não necessariamente contrário - já é visto como um "outsider", do tipo "Como assim vc falando uma coisa dessas?!". Mas tuas reflexões já são um pontapé no início do diálogo necessário. Ver crianças no programa Fantástico do último domingo dizendo que treinarão pra "chegar lá" é algo preocupante... Seja bem vindo Fernando! Cássia, vc tb, agora que já sabe o caminho das postagens hehehe... (hj à tarde a Cássia teve um rápido cursinho sobre como postar, agora ela também pode!). Abraços a todos/as!

Diego S. Mendes disse...

Excelente Reflexão Fernando!!! O que tem me preocupado ainda mais é constatar via programas jornalistico que a perspectiva de esclarecimento passa longe das aulas de Educação Física, dando lugar mesmo ao doutrinamento...Olimpíadas do Rio, ame-a ou ame-a!!! Será possível pensar nesse contexto uma analogia entre o Filme Senhor dos Anéis e a dominação que os anéis olimpicos estão a fazer de nós??