quarta-feira, 14 de julho de 2010

Paulo Santana sobre a Copa/2014 e Olimpíadas/2016 no Brasil: "cueca de veludo e nádegas de fora!"

Publico aqui algumas reflexões e o posicionamento do cronista Paulo Santana, publicado na edição de Zero Hora de hoje. Mais um na multidão! E vejam, no final do texto, como ocorre essa relação de mão dupla entre jornalista e público, em que o próprio público de alguma maneira "pressiona" o jornalista a falar e se posicionar a respeito de um determinado tema, neste caso, os grandes eventos esportivos que serão realizados daqui alguns anos no Brasil.

Resta só o protesto
14 de julho de 2010

O Tribunal de Contas do Estado e o Tribunal de Contas da União já estão mobilizados, com equipes próprias, para fiscalizar as obras públicas relativas à Copa do Mundo de 2014.
Ou seja, vultosos recursos públicos municipais, estaduais e federais serão empregados nas obras para a Copa do Mundo no Brasil.
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Podem me chamar de idiota, mas eu não vejo nenhuma vantagem na realização da Copa do Mundo no Brasil.
Nenhuma.
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Agora mesmo, um rotundo fracasso aconteceu na Copa da África do Sul: eram esperados 3 milhões de turistas e só compareceram 300 mil.
Os ingressos, que deveriam ser cobrados a R$ 2 mil e R$ 3 mil individualmente, tiveram de ser cobrados a R$ 50 e R$ 100 pela mais absoluta falta de interesse do público. Ou melhor, pela completa falta de capacidade aquisitiva por parte dos torcedores.
A mesma coisa, exatamente a mesma coisa, acontecerá no Brasil.
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Dói-me ver que elegem no Brasil como prioridade a construção de obras públicas para realizar a Copa em nosso país.
Serão bilhões e bilhões de reais gastos à custa do suor do povo brasileiro no erguimento dessas obras, muitas delas com utilidade somente para a realização do certame.
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Não sou tão idiota assim e sei que não adianta ser contra a Copa do Mundo agora.
Mas eu pergunto: adiantaria ter sido contra a Copa antes?
Como só eu sou contra agora, quero dizer que também fui contra antes.
Mas a minha opinião solitária de que adianta? Sempre fui contra e morrerei sendo contra.
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Quando é que, pergunto, um país pobre sediou uma Olimpíada? Quando? Nunca!
Pois o Brasil, o rico Brasil da fila trágica da cirurgia no SUS, onde as pessoas levam cinco anos para sofrer uma cirurgia, isso a minoria da fila, porque a maioria morre antes de ser atendida nos cinco anos longos de espera torturante – e os que não morrem restam na fila mutilados –, o rico Brasil, o potente Brasil, o economicamente esplendoroso Brasil se dispõe agora não só a realizar uma Copa do Mundo em 2014, mas, pasmem, também uma Olimpíada em 2016.
Cueca de veludo e nádegas de fora!
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Como nunca em toda a minha individual carreira jornalística, meu blog e o e-mail de minha coluna se abarrotaram de mensagens solidárias a mim por um único pronunciamento meu no Jornal do Almoço, segunda-feira passada, contra a Copa. Uma montanha de mensagens.
É o povo sofrido depondo contra a Copa. Mais que sofrido, o povo que não tem problemas de saúde mas se comove com o drama da saúde dos outros brasileiros, procurando dar a sua modesta opinião sobre os bilhões que serão gastos na Copa e na Olimpíada do Brasil, ecoante contrassenso com a realidade brasileira, repleta de misérias e de necessidades muito mais urgentes do que esse luxo revoltante de um país pobre que se ergue no desperdício arrogante de sediar festas mundiais em cima da dor lancinante de seu povo.
* Texto publicado hoje na página 47 de Zero Hora

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