segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Dai migalhas aos pobres...

Pasmem, ao espiar hoje pela net os debates Pós X Contras Olimpíadas de 2016 no Rio, percebi que parte dos internautas que se lançam no debate tem se apoiado em um argumento muitíssimo delicado (confesso, não sei se este é o adjetivo mais adequado), alegam que graças aos mega-eventos o Brasil receberá um investimento indireto público em saúde, educação, segurança pública, entre outros(parte do legado dos jogos), que não se concretizaria, jamais, sem a presença desses espetáculos por aqui.

Um dos internautas deixou grafado em um blog: "Além disso, caso o Rio de Janeiro não fosse escolhida para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, todas as cifras citadas pelo sr, seriam, por acaso, investidas em educação, saúde, infra-estrutura e tantas outras carências que o nosso país possui??"


É exatamente isto que tem me preocupado. Ao ler comentários como esses me pergunto: É positivo admitirmos que se nosso país não tivesse ganho a oportinidade de sediarum mega-evento esportivo continuarimos sem investimento em educação, saúde etc? Isso me parece uma atitude de aceitar subservientemente a picaretagem instituida nesse país. Lembra aquelas histórias (contadas por nossos colonizadores, claro) do índiozinho que ao ganhar um espelhinho ou um tecido europeu entregava toda riqueza de sua terra. Não dá! Justificar a realização de um evento de tal porte num país que não investe na formação de uma cultura esportiva já é dificil, agora, vislumbrar nisso a única possibilidade de migalhas políticas para setores como educação, saúde e segurança publica é um tiro no pé...

4 comentários:

Benaduce disse...

Complicado, complicado. Concordo, porém, plenamente com sua opinião.

Giovani Pires disse...

Pois é, Diegão, essa pergunta eu tenho me feito sempre: justificar que a realização do evento numa cidade permitirá que se façam investimentos publicos para a sua população me parece de uma lógica caolha, ou perversa.
Significa dizer que os tais investimentos públicos são necessários por causa do evento esportivo e não pelas necessidades (e direitos) dos cidadãos.
Cabem outras perguntas: se não acontecesse o evento onde seriam feitos os investimentos? Quais os critérios para a distribuição destes? Que critérios são esses que demonstram ser necessário investir no Rio e não em Macapá?
Parece que se instituiram no país duas cidadanias: a do Rio e a das demais cidades...
Quanta incoerencia para um governo que se diz popular, do campo democrático, referenciado no social...

Cristiano Mezzaroba disse...

Ótima postagem Diego...
Fico refletindo sobre tudo isso e pensando o quanto somos ingênuos nisso tudo... E depois de 2016, o que vamos promover pra dar conta de nossas reais prioridades? Sul-americnaos, campeonatos mundiais de modalidades específicas? O mundial interclubes vai ser transferido do Japão pra alguma cidade do Brasil?

No fundo, toda essa discussão extrapola o âmbito da Educação Física, torna-se uma questão de cidadania, de alguém que participa de decisões (políticas) e assim constitui seu ambiente de vida (e a qualidade deste).

Correntes mais favoráveis aos Jogos (e a grandes eventos) devem estar alegando: "mas vocês são contra algo que vai trazer benefícios para todo país e principalmente ao RJ!". E isso acaba trazendo à tona, novamente, à EF, aquela questão dos anos 80, que colocava de um lado os "favoráveis" e os "contrários" ao esporte.

Hoje, com tudo isso acontecendo, o que vemos é a necessidade de complexificar este olhar e não cair no mesmo erro do passado recente. Assim, devemo pensar: a realização dos Jogos (e a Copa do Mundo, antes das Olimpíadas) já está confirmada, vão ocorrer por aqui, o que podemos fazer a partir disso?

Fica minha indagação e o espaço para futuras reflexões... vamos pensar nisso! Senão acabamos ficando apenas no simples discurso contrário aos Jogos, ao Mundial de Futebol...

Gio, desde o dia que conversei contigo sobre este mesmo assunto da postagem tenho me perguntado muito sobre tais questões!

Diego S. Mendes disse...

Pois é camaradas, se assumissimos tal lógica, o pleno exercício de nossa cidadania estaria reduzido à organização de movimentos sociais (ou nem isto)reivindicatórios de mega-eventos no Brasil, afinal, assim, teriamos cada vez mais investimentos sociais dos caras-pálidas.

- Tragam, por favor, as Olimpíadas de Inverno pro Brasil!!!

- NBA no Brasil já!!!

A questão que fica (provocada pelo Cristiano no comentário de outra postagem) é: o que podemos fazer diante desse cenário? Acredito que devemos levar o debate também por esse caminho