quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um pouco mais sobre o dogmatismo em relação às Olimpíadas 2016


Aproveitando a postagem do Fernando, denunciando o dogmatismo, acrescento mais uma opinião que é muito formadora de opinião, às vezes até da minha. Trata-se da escritora, cronista e poetisa Martha Medeiros, a qual admiro muito e que andou postando, em seu blog, uma opinião sobre tudo isso que está acontecendo em relação à candidatura carioca à sede dos Jogos Olímpicos de 2016.


(...)
Da França pro Rio de Janeiro: as Olimpíadas se confirmaram e o Brasil já está dividido entre aqueles que estão possessos com a gastação que vai rolar e aqueles que consideram que haverá investimento no esporte, na infra-estrutura e na auto-estima do país. Eu jogo no segundo time. Essa choradeira contra o Brasil sediar as Olimpíadas me lembra aqueles que torceram contra a seleção canarinho na Copa de 1970 para não fortalecer ainda mais a imagem de um governo ditatorial, como era o do Médici. Se o Brasil não tivesse vencido o tri-campeonato mundial, a ditadura teria terminado? Ora. Claro que o ufanismo costuma nublar a realidade, mas também não acho certo perdermos toda a alegria em troca de um manifesto contra nossa política sem-vergonha. Uma festa olímpica dessa magnitude gera emprego, turismo, reformas, saneamentos, transporte, ou seja, tem seu lado positivo. Na educação e saúde, que é o que mais precisamos, realmente, não haverá diferença, infelizmente. Mas não consigo boicotar um acontecimento esportivo por razões políticas. A batalha por moralidade tem que acontecer todos os dias, com ou sem Olimpíadas, e ela começa pelos nossos próprios atos cotidianos. Vamos criar filhos honestos e a gente já vai estar dando uma grande contribuição para o futuro do país. Enquanto isso, que venham os recordes e medalhas.
(...)

Preocupante não? Priorizar recordes e medalhas em detrimento, "apenas", das nossas tão maltratadas educação e saúde...

Também defendo a questão da moralidade - todos nós que pensamos em seres mais esclarecidos e autônomos pensamos nisso! - mas acredito que devemos ser menos ufanistas em momentos de complexidade como este! Pensar apenas nos (possíveis) aspectos positivos dos Jogos (geralmente ligados aos aspectos econômicos - renda, turismo, emprego, investimentos) é ter uma visão reducionista de tudo que está acontecendo e vai acontecer...

Ah... deixei meus comentários no blog dela, claro! Mas lá a coisa é limitada...

Seguimos...

3 comentários:

Alê M. disse...

Não, não, não!!! Não é "priorizar recordes e medalhas em detrimento, apenas, das nossas tão maltratadas educação e saúde..."

É aproveitar uma oportunidade. É aproveitar dois MEGA EVENTOS, no nosso país, com uma capacidade de mudar tudo!

Entendo esse apego aos problemas e a critica. É mais fácil ser pedra do que telhado. Construir é difícil pra cacete! É mais fácil ser contra a Olimpíada do que contribuir para o melhor aproveitamento dessa oportunidade.

Mas chega!
Bola pra frente!!!!

E uma Olimpíada pode sim melhorar, mesmo que indiretamente, a Saúde e a Educação. É só adotar uma postura mais positiva, arregaçar as mangas e trabalhar. Construir.

Diego S. Mendes disse...

Olá Alê, bacana seu comentário. Ele proclama uma face da moeda que temos que nos manter atentos. Concordo contigo quanto aos jogos serem uma possibilidade para esse país. Mas gostaria de refletir a quem normalmente (históricamente) essas possibilidades se destinam: Aos cariócas? À maioria da população que vive nos morros? Aos brasileiros? Será que esses terão acesso aos estádios e instalações dos jogos, durante e após as olimpíadas? Haverá preços acessiveis para a população carente e que necessita de maior acesso ao esporte? Ou será que maior parte dos benefícios das olimpíadas ficarão para os donos das grandes construtoras nacionais (que ja festejam), ou aos donos das grandes redes hoteleiras, etc? Não dá pra fazer futurologia aqui, mas podemos olhar para trás, e nem precisa ir longe, basta analisar com calma o Pan.
E mais, será que esses eventos tem mesmo a capacidade de "mudar tudo" como tu colocastes? Ou ainda, será que não há nesse país milhares de trabalhadores que arregassam as mangas e trabalham duro,dia-após-dia, e mesmo assim não tem acesso a um salário mais justo ou mesmo a diferentes desejos materiais que nunca chegam. Conheço vários desses...infelizmente.
São algumas questões que me provocam nesse momento. Gostaria de te ouvir mais a respeito.

Mas, de fato, os jogos podem representar uma possibilidade para esse país.

Fernando G. Bitencourt disse...

Caros Ale e Diego,
todo fato é sempre uma oportunidade. Não é a toa que existe um ditado popular (e não desprezemos a sabedoria popular) que diz: a ocasião faz o ladrão. Bem, deve haver ditados mais positivos.