quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lévi-Strauss

Pessoal,
Faleceu Claude Lévi-Strauss. Trata-se, sem dúvida, de uma grande perda para o pensamento contemporâneo, uma vez que seu espírito lúcido e ativo - ou mesmo apenas sua presença - ainda contribuía para as reflexões no campo da Antropologia e das humanidades em geral. Segue texto:


O antropólogo e etnólogo Claude Lévi-Strauss morreu na madrugada de
sábado para domingo aos 100 anos, anunciou hoje a Ecole des Hautes
Etudes en Sciences Sociales.DR


O anúncio da morte foi feito pela a École des Hautes Études en Sciences Sociales
Lévi-Strauss foi um dos grandes intelectuais franceses do século XX e
lançou as bases da Antropologia moderna. Foi o primeiro membro
centenário da Academia Francesa, para onde entrou em 1973. E foi
também um crítico do etnocentrismo e de algum modo um precursor
intelectual do movimento ecologista.

Foi também o primeiro antropólogo na Academia Francesa, a cujas
sessões se deslocava regularmente até há não muitos anos.

Filho de judeus franceses, nasceu na Bélgica, em 1908, mas mudou-se
para França ainda em idade de estudar no liceu. Depois, na Sorbonne,
em Paris, estudou Direito e Filosofia, tendo sido professor desta
última disciplina no ensino secundário.

Em 1935 foi para o Brasil. Aceitou um lugar como professor de
Sociologia na Universidade de São Paulo, onde começou a sua carreira
de etnólogo. Naquela época, havia milhares de índios nos subúrbios da
cidade, o que lhe permitiu dedicar os fins-de-semana à sua nova
disciplina.

Partiu mais tarde para o Mato Grosso e a Amazónia, onde contactou
muitas tribos. Depois também estudaria índios norte-americanos.

Em “As Estruturas Elementares do Parentesco”, sua primeira obra de
grande projecção, publicada em 1949, forneceu um novo método de
análise que se tornou comum a muitos antropólogos. A tese do livro é
que o "parentesco" está no centro da Antropologia que estuda o homem
na sua dimensão social. E aqui o parentesco é entendido como as regras
de aliança, de filiação, de residência ou de perpetuação das
populações.

A sua obra mais marcante, “Tristes Trópicos”, chegou em 1950. Trata-se
de uma autobiografia intelectual que recebeu o Prémio Goncourt e teve
êxito também junto de um público muito para além da comunidade
científica. E, em 1958, Antropologia Estrutural abre o caminho ao
estruturalismo, a nova corrente do pensamento de que foi o principal
teorizador, aplicando ao conjunto dos factos humanos de natureza
simbólica um método que procura as formas invariáveis existentes em
conteúdos diferentes. No ano seguinte era titular da Antropologia
Social no Collège de France, de onde se reformou em 1982.

Lévi-Strauss criticou também o aparecimento de uma corrente de
pensamento humanista que secundarizou a natureza, tornando-se assim
num precursor do movimento ecologista.

Numa entrevista em 2005, Lévi-Strauss disse: "Dirigimo-nos para uma
espécie de civilização à escala mundial (...) Estamos num mundo a que
já não pertenço. Aquele que conheci, aquele de que gostei, tinha 1500
milhões de habitantes. O mundo actual tem seis mil milhões de humanos.
Já não é o meu."




Com pesar, Ferbit.

3 comentários:

Lyana de Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lyana de Miranda disse...

Penso que suas ideias, imortalizadas em suas obras, suprirão a falta de criticidade, tão comum em nossa geração. E assim, persistirão. E se perpetuarão.

Cristiano Mezzaroba disse...

Pois é, Fernando e Lyana... infelizmente, uma perda não só para as Ciências Sociais, para o universo acadêmico, mas mais ainda para o mundo...

Tomara mesmo que suas ideias persistam e permitam suprir a falta de critiicdade de nossa geração...